Andresa Salgueiro: «Sim sou empreendedora… louca!»

Decidiu mudar de vida e deixou um emprego com salário fixo para se dedicar às trocas. No primeiro ano (2011/2012) conseguiu viver com apenas 1111 euros e encontrou um estilo de vida que pressupõe que nenhum dia é igual ao outro. Nunca mais parou. O seu exemplo contribui para reduzir a dependência que todos sentimos em relação ao dinheiro e inspira muitas pessoas a encontrar soluções alternativas para as suas vidas através do projecto Believe in Portugal. O Empreendedor.com quis saber até que ponto Andresa Salgueiro se sente uma empreendedora.

Muitas vezes confundem-me com empreendedora! Convidam-me para falar em palestras sobre o empreendorismo e sobre o meu projecto Believe in Portugal, que fez mudar um pouco por todo o lado o conceito de crise económica, tendo em conta a minha vida baseada em trocas. Não sei se sou empreendedora! Pelo menos no sentido mais tradicional da palavra, sendo que um empreendedor é alguém que tem competências para criar, dinamizar e desenvolver um negócio… E negócios, realmente não é a minha praia!

Pode-se dizer sim, que sou uma bocadinho empreendedora social, na medida em que luto por uma causa social, colocando as minhas ideias em prática, com criatividade, inovação, aceitando riscos, planeando, gerindo objectivos, tanto a nível temporal, como pessoal, financeiros ou familiares. Sim, aqui eu sou uma empreendedora!

Esta minha vida de trocas nada mais é do que colocar em prática uma ideia que há muito assolava a minha mente: ‘Porquê complicar a vida com o uso do dinheiro? Porquê trabalhar meramente com o fim monetário que nos leva a gastar mais dinheiro que temos? Porquê trabalhar todos os meses a mesma quantidade de horas (ou mais) para ter a mesma quantidade de dinheiro, que nem sempre precisamos?’… Enfim… Tantos e tantos porquês! Lá está, um empreendedor questiona! Sim, sou empreendedora!

Por outro lado, a minha vida de trocas mais não é do que ver a vida de outra forma, tentar simplificar ao máximo, quando temos necessidade de um bem ou serviço, reutilizar produtos e bens que já não precisamos, partilhar, emprestar, dar… colaborar! Sim, eu acredito numa vida onde a comunhão e a partilha são os exemplos diários a ter em conta. Isso é ser empreendedor? Talvez! Um empreendedor é um agente de transformação, um destruidor da ordem económica, criando novos produtos e serviços e novas formas de organizar os recursos humanos e materiais. Se é isso, sim, sou empreendedora!

Há quem diga que vou levar a economia portuguesa à bancarrota, outros dizem que vou ganhar o nobel da economia com uma economia baseada em trocas, na construção de um mundo novo! Eu ainda não sei bem quem sou… Acho que essa também é a característica de um empreendedor! Afinal, o empreendedor tem como lema ‘o caminho faz-se caminhando’, como diria o poema. Diariamente aprende e adapta a sua forma de ver e estar no mundo, em prol da sua ideia e da sua inovação. Lá está, um empreendedor refaz! Aqui sim, sou empreendedora!

Também eu faço adaptações diárias… tantas que até acho que já nem vivo de trocas, mas sim de partilhas, dádivas, amizade e comunhão. É essa a beleza da vida, quando numa vida de trocas, toda trocada, podemos trocar tudo, ficarmos sem trocas, mas ficarmos com muito mais: com rede de contactos, com amigos, com recursos, que muitas vezes são apenas eles que nos sustentam a alma e a vida que levamos. Sim, porque isto de se viver assim, requer alguma ousadia, coragem, adaptabilidade e resiliência. Lá está, um empreendedor é ousado, corajoso, adaptável e resiliente! Se é isto tudo, sim, sou uma empreendedora!

Mas se há algo que podem dizer sobre mim (e até gosto) é que tenho um ‘fraquinho’ por ser sempre a ‘primeira’ nos projectos que desenvolvo. Claro que nunca ninguém é o primeiro, porque reinventamos tudo o que já existe e como Einstein diria, ‘as ideias não são de ninguém, mas andam aí a ver quem as apanha’… Eu gosto de ser um pouco iniciática, inovadora, tal como uma guerreira que enfrenta uma batalha com a bandeira em punho e a armadura vestida! Isso, eu gosto! Lá está, um empreendedor é um iniciador, um guerreiro, um inovador! Sim, sou uma empreendedora!

Viver de trocas, fez-me assumir e acreditar (ou belivar, usando o ‘verbo’ que inventei) que tudo é possível! Que tanto se pode trocar um quilo de batatas por uma cebola, como um carro por um caderno, ou até por uma cidade inteira a trocar. Claro que não é fácil…. Claro que tudo é relativo… Mas o grande lema é: ‘Não sabendo que era impossível, foi lá e fez’. Eu sou mais ou menos assim! Pus cidades a organizar feiras de trocas um pouco por todo o Portugal, sem saber se era legal. Abri lojas de trocas, onde cada objecto é trocado unicamente pela quantidade e não pelo valor. Fui apresentadora de um programa de televisão à troca, com convidados que nunca chegam aos canais de comunicação. E por fim, desafiei-me a lançar um livro, todo feito à troca e distrbuído pelo país, ‘vendido’ à troca, sem utilização do dinheiro. Bastou-me belivar que era possível, que era simples, que era potenciador dos tempos que correm… Et voilá, pus-me ao caminho, porque é tarde demais para ficar a olhar para os mapas (quando usamos o Sol para vermos a direcção)!

O meu último projecto é um livro todo à troca, intitulado:Belivro: ler e ser 111% feliz!. É mais uma acção empreendedora (ou podemos dizer ‘louca’?) do que belivo ser possível fazer. Um pequeno pormenor que poderá ser o agente da mudança, potenciando de alguma forma uma alteração de paradigma e de acção na nossa sociedade e no nosso país, tão pequeno e tão ‘jeitoso’ cheio de VERDADEIROS EMPREENDEDORES ansiosos por vestir a camisola, astear a bandeira e ir para o campo de batalha, belivando num país, que tem tudo para TROCAR as voltas ao mundo!

Serei empreendedora ou louca? Ou terá o empreendedor de ser um pouco ‘Louco Saudável’?nBoas loucuras e belivanços!

Saiba mais aqui:nAndresa SalgueironBelivro: ler e ser 111% feliz!

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