Retrato de uma Empreendedora – Rita Marques (ImpacTrip)

Com o aumento de jovens à procura de experiências de viagem diferentes, esta empresa 100% nacional surge como uma alternativa irreverente e positiva que pretende ser a solução de uma necessidade de mercado emergente através de programas turísticos únicos. ‘Viagens diferentes que fazem a diferença’ é, em poucas palavras, a máxima desta promotora que oferece experiências turísticas alternativas e que se querem inesquecíveis.

Da combinação da viagem com o voluntariado nasce este conceito turístico inovador: O Turismo Solidário. Esta nova forma de viajar, mais genuína, permite fugir do turismo de massas e redescobrir Portugal de forma mais local, envolvente e positiva. Ensinar crianças de bairros sociais a tocar guitarra, ajudar mães solteiras a melhorar o seu CV, distribuir comida a sem-abrigo ou mergulhar para limpar o Oceano Atlântico são apenas alguns exemplos do que as pessoas podem fazer durante a sua viagem.

Rita Marques, fundadora da ImpacTrip, revelou um pouco do seu percurso ao Empreendedor.

O que o levou a empreender?

O aborrecimento. Eu era business developer na Malásia e já tinha contrato em Lisboa para ser consultora de gestão mas sabia que o meu sonho não era fazer nenhum dos dois. Eu sou apaixonada por viagens e activista do voluntariado, pelo que o conceito surgiu naturalmente na minha cabeça e pô-lo em prática foi o passo seguinte natural.

Como surgiu a ideia para este projecto?

A ideia surgiu bastante longe de Portugal… Depois de trabalhar na Malásia, estava eu a viajar sozinha de mochila às costas pela Ásia quando percebi que havia mais pessoas como eu, que queriam conhecer profundamente os locais por onde passavam e deixar uma marca positiva nas pessoas que conheciam fazendo voluntariado.

Já existiam alguns programas deste género com bastante sucesso e que faziam realmente a diferença nessas comunidades. Em Portugal não existia nada do género, e foi aí que eu pensei: ‘Em Portugal existem, obviamente, necessidades sociais e nós somos um país maravilhoso para se viajar’ e a ideia estava formada. Durante este processo conheci o Diogo que, com experiência no sector do turismo percebeu que era uma ideia com futuro. Alguns meses e muito trabalho depois, lançámos a impacTrip.

Para além de si, quem faz parte da sua equipa?

Somos uma equipa pequena mas muito motivada: Apenas eu e o Diogo. Temos competências e experiências muito complementares e uma visão comum do que queremos alcançar pelo que tem resultado muito bem.

Eu tenho Mestrado em Gestão Internacional na NOVA SBE, diversas experiências internacionais (tendo vivido 3 vezes fora em 2 continentes) e em gestão de projetos. Já tinha liderado 2 projetos de empreendedorismo social antes e sou apaixonada por viagens.

O Diogo Areosa é formado em turismo e tem bastantes anos de experiência no sector. Tem competências em marketing, vendas e de gestão de marcas e é apaixonado pela Natureza e pelo desporto.

Teve de fazer um investimento avultado?

Para começar, fazer testes e adaptar os serviços não foi preciso nenhum investimento avultado. Usámos as nossas poupanças para o fazer.

Para o arranque procurámos um parceiro que acreditasse no nosso negócio e que trouxesse valor acrescentado à equipa, para além de capital.

Quais são os seus objectivos mais imediatos para o seu projecto?

Vamos lançar o site este mês e queremos ser sustentáveis desde o primeiro mês.

O que é para si ‘ter sucesso’?

Como empreendedora social, para mim ter sucesso é conseguir construir uma empresa que responde a uma necessidade de mercado ao mesmo tempo que causa um impacto social e ambiental positivo. Para nós, cada viajante pode deixar a sua marca por onde passa e fazer a diferença.

Ser empreendedor é também ter maus momentos. Pode partilhar connosco um aspecto negativo, uma dificuldade do seu projecto?

O primeiro ‘não’. Depois desse já foram muitos e agora é muito mais fácil lidar com isso (característica super importante para qualquer empreendedor) mas no início é complicado.

De facto, não foi nada de especial mas na altura teve um grande impacto em mim. Estava a fazer parcerias com restaurantes e hostels no centro de Lisboa e um senhor (daqueles de bigode com o avental sujo) vira-se para mim e diz algo do género ‘acha que alguém quer fazer isso? Deve estar a brincar. Os turistas só querem ver o que é bom, querida.’

Que aprendizagens retira da sua experiência que possam ser inspiradoras para outros empreendedores?

No desenvolvimento da impacTrip houve vários momentos que naturalmente seguiram as fases normais de formação de uma startup.

Começámos por validar a ideia na sua forma mais simples para perceber se afinal aquilo era só uma ideia gira ou se poderia haver viabilidade e mercado para transformar algo ‘interessante’ num negócio social. Falámos primeiro com família e amigos e depois contactámos professores da universidade de diversas áreas relevantes para o negócio, profissionais que trabalham na indústria, pessoas com experiência em empreendedorismo e outras com sucesso em projectos próprios. Tendo o feedback sido positivo, mas com muitos e sábios avisos, e a motivação crescente decidi avançar.

A fase de estruturação da ideia levou bastante tempo. Sempre que se esticava um prazo percebia que devia ter dado o dobro para ser mais precisa. Tudo isto se passou bem longe do mercado em que eu queria entrar e do meu país de origem, na Malásia. Isto levantou, por um lado, dificuldades de contactar pessoas relevantes, mas também me deu a distância necessária para toda a pesquisa e reflecção prévias para explorar qual a melhor forma de implementar o projecto.

A estratégia mudou um trilião de vezes. Foi mais um ‘try and see’ que outra coisa, apalpar terreno para encontrar o espaço da impacTrip.

Explorámos várias formas de viagens diferentes até chegar ao conceito final, várias formas de parcerias antes de chegar à rede actual, várias estratégias de comercialização antes da decisão final, enfim, várias combinações de variáveis antes de finalmente chegar a um conceito mais ou menos estável. Nunca o é por completo porque o mercado está sempre a mudar e uma startup não pode ficar rígida.

A fase seguinte de mobilizar recursos também não foi tão problemática como muitos pensam. Lancei o desafio a uma amiga de informática que gostou do conceito e começou a trabalhar no website, encontrei uma startup de design que me apoio na criação de logo e designs iniciais e registei os domínios .com e .pt (essencial!). Entretanto percebi que sozinha não conseguiria estar à altura das minhas ambições e encontrei um co-fundador com características muito complementares às minhas e com quem trabalho muito bem.

Mais recentemente completámos um programa de incubação para empresas sociais o que nos ajudou muito a consolidar todo o projecto e fechámos algumas parcerias de comercialização bastante importantes.

Cada fase destas teve milhões de aprendizagens que seria impossível descrever aqui mas só é possível apreender por quem passa pelo processo.

Teve um mentor? Quem?

Sim, tive 2 mentores no âmbito do programa PAES (Programa de Apoio a Empresas Sociais) do BIS (Banco de Inovação Social) que me ajudaram a estruturar o plano de negócios.

Inspirou-se num projecto ou empreendedor?

Não acredito em ídolos.

Inspirei-me em vários aspectos de uma série de projectos de turismo solidário noutros países. O conceito não é novo mas tem várias falhas. Tirei o melhor de cada versão e criei os programas da impacTrip.

Como é que empreender modificou a sua vida?

Totalmente. É diferente a cada dia, pode começar às 12h e acabar às 3 da manhã ou começar cedo numa conferência e terminar tarde com uma reunião num bairro social, pode começar a trabalhar com crianças desfavorecidas e acabar a discutir uma parceria com um director de um Hotel de cinco estrelas.

Para já modificou pelo facto de começar a não receber ordenado depois de me despedir do meu trabalho razoavelmente bem remunerado em consultoria. Foi uma decisão difícil e um desafio permanente.

Hoje em dia já me habituei ao horário flexível mas interminável, às constantes adaptações de comunicação e ao imprevisível e importante networking.

Sinceramente, mudou muito para melhor. Já não me consigo ver a ser outra coisa.

Em que áreas precisa de colaboração e que tipo de pessoas/entidades gostaria de ter a colaborar consigo?

Funcionamos muito em parcerias e estamos sempre abertos a colaborações.

Precisamos de:

– Parcerias sociais: Organizações sociais (ou ambientais) que possamos ajudar através de voluntários e de apoio dos seus negócios sociais

– Parcerias turísticas: Hotéis, Hostels, restaurantes, transportes, guias, etc…

– Parcerias comerciais: Canais de distribuição para vendas de produtos turísticos

Além disso, estamos sempre abertos a co-criação de produtos com outras empresas que tenham produtos e serviços que encaixem bem no nosso conceito.

Em que áreas se vê (ou ao seu projecto) a colaborar com outras pessoas e empresas?

Estamos sempre disponíveis para novas ideias!

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