Como capitalizar a Inteligência Artificial? “O foco não é a tecnologia — são os processos”

Empresas que integram a IA de forma estratégica geram retorno duas vezes superior, revela estudo da BCG.

Na foto: Tiago Kullberg, Managing Director & Partner da BCG em Lisboa

A Inteligência Artificial deixou de ser uma tendência e passou a ser uma prioridade para as empresas a nível global. Contudo, segundo o mais recente estudo da Boston Consulting Group (BCG), apenas 25% das organizações que investem em IA conseguiram gerar valor real com essa aposta. A razão? “O verdadeiro valor da IA não está na tecnologia, mas na sua aplicação estratégica para transformar processos críticos e acelerar vantagens competitivas”, afirma Tiago Kullberg, Managing Director & Partner da BCG em Lisboa.

De acordo com o estudo BCG AI Radar: From Potential to Profit, 31% das empresas planeia investir mais de 25 milhões de dólares em IA em 2025. Um número significativo — 6% pretende mesmo ultrapassar os 100 milhões — mas que, sem uma estratégia bem definida, corre o risco de não se traduzir em resultados concretos.

Foto de Rawpixel.com em Freepik

Os líderes destacam-se na aplicação, não no volume

A análise da BCG revela que as empresas líderes em IA destinam 80% dos seus investimentos à reformulação de funções essenciais e à criação de novas ofertas. Esse foco estratégico resulta num retorno 2,1 vezes superior ao das restantes empresas, que distribuem os investimentos por múltiplas iniciativas de curto prazo e escassa coordenação.

Estas organizações bem-sucedidas priorizam, em média, 3,5 casos de uso, enquanto as restantes empresas tentam executar até 6,1 projetos em simultâneo, diluindo impacto e capacidade de escalabilidade. Além disso, apenas 40% das empresas monitoriza indicadores financeiros de valor acrescentado pela IA, o que demonstra uma falta de alinhamento entre investimento e retorno esperado.

A IA exige mais do que investimento: exige mudança

Apesar da crescente adoção de agentes autónomos — 67% dos executivos considera esta via para a transformação digital — a maioria das empresas ainda enfrenta desafios significativos. Apenas um terço formou mais de 25% dos seus colaboradores para utilizar IA de forma eficaz. Ainda assim, a perceção do impacto no emprego permanece moderada: 68% das lideranças acredita que manterá o número atual de trabalhadores, apostando na capacitação e aumento da produtividade, enquanto 17% prevê o surgimento de novos cargos.

Do lado dos riscos, 66% dos executivos aponta preocupações com privacidade e segurança de dados, 48% teme a falta de controlo sobre decisões tomadas por IA e 44% destaca os desafios regulatórios. A cibersegurança surge também como um ponto crítico, com 76% das empresas a reconhecer que precisa de melhorias nesta área para utilizar a IA com confiança.

Foto de DC Studio em Freepik

Cinco estratégias para os CEO’s capitalizarem a IA

O estudo identifica cinco linhas de ação essenciais para que a IA deixe de ser apenas uma aposta e se torne uma fonte consistente de valor:

  • Inovar com IA – Repensar modelos de negócio e operações, criando novas ofertas e formas de trabalho baseadas em IA;
  • Priorizar com critério – Focar-se num número limitado de iniciativas de alto impacto e escalabilidade comprovada;
  • Integrar na estratégia – Alinhar a IA com os objetivos estratégicos e monitorizar o retorno com indicadores de valor;
  • Transformar a cultura organizacional – Reimaginar processos, capacitar equipas e promover uma cultura orientada para a inovação;
  • Antecipar riscos e tendências – Estar preparado para mudanças regulatórias, novos modelos de mercado e avanços tecnológicos disruptivos.

Oportunidade para as empresas portuguesas

realizado com base em respostas de 1.803 executivos de 19 mercados e 12 setores, o estudo da BCG traça um cenário em que a Inteligência Artificial pode ser um motor de transformação profunda — mas apenas para quem souber integrá-la nos processos certos, com as equipas certas e o foco certo.

Para Tiago Kullberg, o desafio é claro: “Não basta investir em IA. É preciso integrá-la no coração da organização — nos processos, nas pessoas e na cultura.”

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