A escassez de mão-de-obra, as exigências de sustentabilidade e os padrões crescentes de qualidade estão a transformar o packaging industrial num ponto estratégico para a inovação. Na Europa e além, a automatização das operações de embalagem começa a redesenhar não só as fábricas, mas também o próprio perfil dos profissionais que nelas trabalham.
Da última etapa à prioridade estratégica
Durante décadas, a embalagem foi vista como a fase final da produção. Hoje, tornou-se um dos maiores focos de inovação industrial. A razão é simples: falhas neste segmento custam caro. A consultora Eurofound estima que mais de 41% dos fabricantes europeus têm dificuldade em preencher funções de produção e logística, enquanto as paragens não planeadas nas linhas de embalagem continuam a provocar prejuízos significativos — parte dos mais de 1,4 biliões de dólares em perdas anuais associadas a interrupções na produção global.
A necessidade de adaptar os sistemas ao manuseamento de novos materiais recicláveis, à redução do erro humano e à escassez de operários especializados está a acelerar a adoção de soluções automatizadas. Como sublinha Martynas Česnaitis, responsável pela área de automação da VMG Technics, “as novas exigências regulamentares e dos consumidores estão a forçar a substituição do plástico por materiais mais frágeis e variáveis, como o papel. Isso exige repensar todo o sistema de packaging”.

Inteligência artificial, robótica e logística autónoma
As mudanças não se limitam aos materiais. Cada vez mais, sistemas robóticos móveis — como AMRs e AGVs — asseguram o transporte interno entre zonas de produção e embalagem, reduzindo o esforço físico e melhorando a eficiência. Paralelamente, a inteligência artificial começa a desempenhar um papel central. Através de sistemas de visão computacional e análises preditivas, os fabricantes conseguem detetar defeitos em tempo real, antecipar falhas e ajustar continuamente os processos com base em dados operacionais.
“Estamos a caminhar para linhas de embalagem inteligentes, onde visão artificial, robótica e analytics funcionam em conjunto”, explica Česnaitis. “Não se trata de substituir pessoas, mas de criar sistemas escaláveis e de alto valor acrescentado, onde os profissionais são formados para operar, manter e interpretar os dados destas tecnologias”.

O caso de sucesso da Klaipėdos mediena
No setor da madeira, onde os componentes variam muito em forma e dimensão, a automatização do packaging representa um desafio particular. Foi esse o caso da Klaipėdos mediena, uma das maiores produtoras de mobiliário dos países bálticos, que enfrentava constrangimentos operacionais nesta etapa da produção.
A empresa iniciou uma reestruturação profunda da sua linha de embalagem, introduzindo sistemas de inspeção por visão artificial, robôs para formação e selagem, e células automatizadas para deteção de defeitos. O processo decorreu sem interrupção das operações, o que exigiu um alinhamento rigoroso com os fluxos produtivos existentes.
Segundo Česnaitis, “a automação não foi encarada como atalho, mas como investimento estrutural. O packaging, quando falha, afeta toda a cadeia — logística, cliente, competitividade. Por isso, tornámo-lo o nosso foco”.
O resultado foi expressivo: a produtividade da embalagem aumentou 33%, passando de 16,3 para 21,76 m² por hora. A velocidade subiu de 9 para 12 peças por minuto. Foram requalificadas 96 posições manuais, e os operadores passaram a desempenhar funções de supervisão. Os robôs conseguem agora manipular peças até 2400 mm, melhorando a segurança no trabalho e reduzindo o esforço físico.
Para Ingrida Grikpėdienė, CEO da VMG Wood Invest, o maior desafio não foi tecnológico, mas operacional. “Integrar estas soluções num ambiente produtivo em pleno funcionamento exigiu um planeamento muito afinado. Mais do que instalar máquinas, foi preciso otimizar processos e garantir um futuro sustentável, com empregos qualificados e condições ergonómicas”.