Pedro Pereira: “Gestores de ativos enfrentam pressão estrutural”

A BCG alerta que 70% do crescimento do setor veio do mercado e não de capital novo. Mudanças nos investidores, IA e consolidação são as grandes tendências.

Empresas estão preparadas para enfrentar choques globais.
Na foto Pedro Pereira, Managing Director & Senior Partner da BCG em Lisboa.

“Apesar do crescimento registado em 2024, o setor da gestão de ativos continua a enfrentar uma pressão estrutural significativa”, alerta Pedro Pereira, Managing Director da BCG em Lisboa. Com margens sob compressão, novas exigências dos investidores e a disrupção digital a acelerar, o setor precisa de mais do que bons resultados de mercado — precisa de reinvenção.

Segundo o estudo “Global Asset Management Report 2025”, realizado pela Boston Consulting Group (BCG), os ativos sob gestão (AuM) atingiram os 128 biliões de dólares em 2024, o valor mais alto de sempre, após uma subida de 12% face ao ano anterior. No entanto, mais de 70% deste crescimento veio do desempenho dos mercados, e não de entradas líquidas de capital — um sinal claro da vulnerabilidade do setor à volatilidade externa.

Europa com crescimento abaixo da média global

O crescimento dos AuM variou significativamente por região. A América do Norte destacou-se com +14%, seguida pela América Latina e Ásia-Pacífico (exceto Japão e Austrália), ambas com +13%. Japão e Austrália acompanharam a média global com +12%, enquanto o Médio Oriente e África ficaram nos +10%. A Europa foi a região com menor dinamismo, crescendo apenas 7%.

O estudo da BCG sublinha que os gestores de ativos devem olhar para além do crescimento nominal e concentrar-se em adaptar os seus modelos de negócio às novas dinâmicas do setor.

Tendência 1: Novas preferências dos investidores

Num mercado cada vez mais competitivo e diversificado, as gestoras enfrentam dois desafios estratégicos. Por um lado, precisam de reposicionar a sua oferta de gestão ativa face à crescente procura por ETFs ativos — que representaram 44% dos lançamentos em 2024 e crescem a um ritmo anual de 39%. Por outro, devem apostar na democratização dos ativos privados, que já ultrapassaram os 300 mil milhões de dólares em fundos semi-líquidos.

Estas soluções atraem investidores de retalho que procuram retornos consistentes com menor risco, embora enfrentem desafios regulatórios e de literacia financeira.

Tendência 2: Consolidação e transformação digital

A consolidação do setor está em curso. Entre 2013 e 2023, os gestores duplicaram, em média, o volume de ativos sob gestão. Os que operam com maior escala beneficiam de sinergias tecnológicas e operacionais. Para os mais pequenos, a recomendação da BCG passa por modelos operacionais simplificados e mais eficientes.

A transformação digital, impulsionada por parcerias e operações de fusão e aquisição (M&A), é outro eixo fundamental. As empresas que investem em tecnologia e dados estão mais preparadas para responder às exigências de personalização, compliance e eficiência.

Tendência 3: Eficiência com Inteligência Artificial

A IA está a moldar o futuro da gestão de ativos. Já aplicada em todas as fases — do front ao back office —, está a otimizar processos, melhorar a automação e acelerar a tomada de decisões. A sua relevância é particularmente sentida na gestão de ativos não líquidos e alternativos, onde a complexidade operacional é mais elevada.

Para Pedro Pereira, o caminho passa pela sofisticação da tecnologia, com integração da IA Generativa, e por soluções centradas no cliente. Aquelas que conseguirem combinar escala, diferenciação e eficiência estarão melhor posicionadas para garantir relevância e rentabilidade a longo prazo.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor escreva o seu comentário!
Por favor coloque o seu nome aqui

3 + 5 =