O nome Soham Parekh tornou-se viral nos últimos dias nas redes sociais e nos círculos tecnológicos globais, depois de várias denúncias feitas por fundadores de startups norte-americanas. O caso, que já está a ser apelidado de “Soham-Gate”, expôs fragilidades no recrutamento remoto e acendeu o debate sobre ética profissional no ecossistema das startups, especialmente no domínio da inteligência artificial.
Um engenheiro brilhante — e sobrecontratado
Soham Parekh é um engenheiro de software indiano, licenciado pela University of Mumbai e mestre em Ciência da Computação pela Georgia Tech (EUA). Com um perfil técnico altamente qualificado, foi contratado remotamente por várias startups emergentes, incluindo empresas ligadas à Y Combinator e ao sector da inteligência artificial, como Dynamo AI, Synthesia, Alan AI, entre outras.
Contudo, segundo diversos fundadores, Parekh terá aceite simultaneamente várias propostas de trabalho, sem informar qualquer uma das empresas sobre os seus compromissos paralelos. A denúncia inicial surgiu a 2 de julho, quando Suhail Doshi, fundador da Mixpanel e da Playground AI, publicou na rede X um alerta às empresas da Y Combinator:
O alerta desencadeou uma onda de reações, com vários outros empresários a partilharem experiências semelhantes e a confirmar suspeitas de que Parekh estaria envolvido em múltiplas funções em simultâneo, sem comunicar de forma transparente a sua situação.
Entrevistas brilhantes, desempenho errático
Segundo os relatos, Parekh impressionava nas entrevistas técnicas, mas revelava-se inconsistente no desempenho real: falhas de comunicação, atrasos recorrentes e justificações pouco claras. Nalguns casos, recorria a histórias emocionais ou a problemas familiares para justificar ausências ou baixa produtividade.
Email partilhado na plataforma X por Harshith Vaddiparthy sobre uma alegada candidatura espontânea de emprego de Parekh. Vaddiparthy, sublinha que não chegou a a contratá-lo porque os tempos de resposta aos emails eram “demasiado longos”.
Fundadores como Flo Crivello (Lindy) e equipas da Antimetal, Fleet AI e Warp confirmaram que acabaram por o despedir, depois de verificarem a duplicidade de contratos ou a utilização de técnicas como mouse jigglers para simular actividade.
Ética profissional ou falha sistémica?
A controvérsia gerou um intenso debate online, sobretudo em plataformas como Reddit e X. Muitos utilizadores do fórum /r/overemployed, dedicado ao fenómeno do trabalho simultâneo remoto, reconheceram a capacidade técnica de Parekh, mas alertaram para o impacto negativo que estas práticas podem ter na reputação de engenheiros remotos, especialmente de países em desenvolvimento.
Outros sublinharam que o problema revela uma falha estrutural das startups tecnológicas: processos de recrutamento apressados, verificação mínima de antecedentes e uma obsessão por velocidade que muitas vezes compromete a avaliação da integridade dos candidatos.
Reabilitação à vista?
Apesar do escândalo, nem todos condenaram Parekh. Conor Brennan-Burke, fundador da HyperSpell, manifestou publicamente a intenção de lhe oferecer uma nova oportunidade, afirmando que “todos merecem uma segunda hipótese”.
Num contacto privado divulgado por Suhail Doshi, Parekh mostrou-se arrependido e pediu conselhos sobre como “reconstruir o seu futuro”, o que levanta a possibilidade de um regresso mais transparente ao mercado.
O que as startups devem aprender com o caso
O episódio de Soham Parekh é um sinal de alerta para o ecossistema global de startups. Num mundo cada vez mais marcado pelo trabalho remoto e pela contratação internacional, é fundamental:
- Reforçar os processos de verificação e onboarding;
- Clarificar cláusulas de exclusividade desde o início;
- Promover uma cultura de ética, confiança e responsabilização.
Mais do que uma história de fraude, este caso deve ser lido como um espelho das fragilidades do modelo atual de contratação acelerada e como uma oportunidade para reforçar as boas práticas no sector.