Tomás Penaguião, Partner da Bynd, defende que a inteligência artificial pode acelerar a mudança no perfil dos investidores portugueses
Apesar da vitalidade do ecossistema empreendedor, o investimento em startups continua a ser residual em Portugal. A maioria dos investidores nacionais mantém uma preferência acentuada pelo setor imobiliário, optando por ativos tangíveis e de menor risco. Para Tomás Penaguião, Partner da Bynd, gestora portuguesa de capital de risco, essa tendência é explicada por fatores culturais, estruturais e fiscais — mas pode ser revertida com o crescimento das tecnologias emergentes.
“O imobiliário continua a ser a classe de ativos favorita dos portugueses”, afirma. “É tangível, conservador e percebido como seguro, enquanto o capital de risco é visto como algo distante e reservado a especialistas.” A baixa literacia financeira e a aversão ao risco explicam, em parte, esta realidade. “Portugal tem um dos níveis mais baixos de interesse financeiro da Europa. Além disso, o nosso ecossistema ainda é jovem e não há muitos casos de sucesso que estimulem um efeito de bola-de-neve.”
A comparação com outros países europeus mostra que há ainda caminho por fazer. “Em Espanha, não é raro vermos uma startup com 10 ou 20 business angels na estrutura de capital. Em Portugal, isso é muito mais raro. E no Reino Unido, esse dinamismo é ainda mais acentuado.”
IA pode acelerar a transformação do mercado
Apesar dos obstáculos, Tomás Penaguião acredita que o cenário está a mudar, impulsionado pela inteligência artificial. “Praticamente 50% de todo o investimento feito este ano em startups foi em IA e machine learning. No nosso Fundo III, seis em cada dez empresas investidas são nesta área.” A razão é simples: a tecnologia está a reduzir as barreiras de entrada. “Hoje, com IA, é possível desenvolver aplicações com linguagem natural, sem saber programar. Isso torna muito mais fácil e barato lançar uma startup tecnológica.”
Esta transformação está também a criar novas oportunidades de negócio. “Com os avanços da IA de voz, por exemplo, vão surgir novos serviços na área do atendimento ao cliente, onde será possível marcar um barbeiro ou resolver problemas com um robô — com qualidade e eficiência.”
“Com o crescimento da inteligência artificial, o custo de lançar uma startup está a baixar. Isso pode transformar o ecossistema nos próximos anos.”
Tomás Penaguião
Critérios de seleção: pessoas primeiro
A Bynd investe numa fase muito inicial — pré-semente e seed — o que implica um elevado grau de risco. Mas para a gestora, o fator humano é determinante. “A chave está na equipa fundadora: quem são, que visão têm e se conseguem executá-la. É isso que nos orienta.” Outros critérios incluem o tamanho do mercado-alvo, as tendências e a inovação do produto. “Em projetos mais avançados, olhamos também para métricas de tração, receitas e feedback dos clientes.”
Proximidade com os fundadores é fator distintivo
Uma das marcas da Bynd é a relação de proximidade com os empreendedores. “Nascemos como um grupo de business angels e mantemos esse ADN. Não somos investidores passivos. Acompanhamos os projetos de perto e queremos acrescentar valor.” Essa estratégia tem três vantagens claras: dá acesso a melhores oportunidades, contribui para o crescimento dos negócios e reforça a confiança dos investidores no fundo. “É o chamado capital inteligente”, resume Tomás Penaguião.