O futuro incerto do EIT: o que está em causa para Portugal e para a Europa

O Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia, que já apoiou 9.900 startups e unicórnios como Climeworks e Owkin, pode ficar sem verbas no orçamento 2028-2034 da União Europeia.

Vencedores dos EIT Health InnoStars 2023

Futuro do EIT em risco, sem financiamento no próximo orçamento da UE. O Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia (EIT), um dos principais financiadores de startups na União Europeia, enfrenta um futuro incerto após a ausência de referência ao seu financiamento no novo orçamento comunitário para o período 2028-2034. Criado em 2008 e sediado em Budapeste, o instituto dispõe de um orçamento de 2,96 mil milhões de euros até 2027 e já apoiou mais de 9.900 startups, incluindo em Portugal.

O papel do EIT no ecossistema europeu

Criado em 2008, o Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia (EIT) foi concebido como a resposta da União Europeia ao desafio de ligar ciência, inovação e mercado. A sua missão passa por apoiar todo o ciclo do chamado triângulo do conhecimento — educação, investigação, inovação e empreendedorismo — através das Comunidades de Inovação e Conhecimento (KICs). Estas comunidades funcionam como parcerias colaborativas, em modelo de joint ventures, articulando universidades, empresas e centros de investigação em hubs de inovação espalhados pela Europa.

Ao longo da sua trajetória, o EIT desenvolveu uma rede única de Co-Location Centres e Regional Innovation Schemes, promovendo mobilidade, transferência tecnológica e colaboração transnacional. Foi também responsável por gerir direitos de propriedade intelectual e apoiar startups que, de outra forma, dificilmente teriam escalado internacionalmente. Entre os exemplos mais visíveis estão unicórnios como a Climeworks, a Owkin ou a Verkor.

Foto de Michiel Ton /EIT Health

O risco de desaparecimento no próximo orçamento europeu

O Sifted noticiou que o novo quadro financeiro plurianual da UE (2028-2034) não inclui, até ao momento, qualquer referência a financiamento para o EIT. A ausência levanta sérias dúvidas sobre o futuro da agência, que atualmente gere 2,96 mil milhões de euros (2021-2027). Enquanto o Conselho Europeu de Inovação (CEI) deverá ver o seu orçamento reforçado para 38 mil milhões de euros, o silêncio em torno do EIT é preocupante.

Fontes internas admitem não ter recebido orientações sobre o futuro, enquanto porta-vozes do instituto reiteram o compromisso de “oferecer experiência e rede ao esforço coletivo de fortalecer o cenário de inovação da Europa”. O eventual encerramento do EIT seria politicamente sensível, por se tratar de uma das poucas instituições sediadas na Hungria, e economicamente disruptivo para milhares de startups e projetos apoiados.

Impacto direto em Portugal

Entre 2021 e 2022, o EIT canalizou mais de 22 milhões de euros para o ecossistema nacional, apoiando projetos de inovação, educação e empreendedorismo. Só no concurso de 2024, 13 propostas com participação portuguesa foram financiadas, garantindo mais de um milhão de euros para entidades locais.

O caso da EIT Manufacturing é paradigmático. Com parceiros como a Sonae, o INESC TEC e, mais recentemente, a Universidade Lusófona, a comunidade tem desempenhado um papel estratégico em Portugal. Numa indústria que representa 11,9% do PIB e emprega mais de 730 mil pessoas, a ligação do EIT ao setor fabril tornou-se fundamental para acelerar a digitalização, a sustentabilidade e a inovação.

Na foto: Vencedores EIT InnoEnergy com a startup Store Now

Desafios e oportunidades para a indústria portuguesa

A indústria transformadora portuguesa continua a ser um pilar económico, sustentada por setores tradicionais como automóvel, componentes mecânicos, têxteis, calçado, cortiça ou agroalimentar, mas também por áreas emergentes como biotecnologia, aeroespacial e eletrónica. No entanto, persistem fragilidades: produtividade abaixo da média europeia, necessidade de requalificação laboral e falta de investimento robusto em I&D.

Aqui, o papel do EIT é determinante. Para além do financiamento, fornece uma plataforma de conhecimento e colaboração que permite às empresas nacionais aceder a redes internacionais, desenvolver competências de alto valor e participar em projetos de transformação digital e verde. Sem este apoio, Portugal corre o risco de perder competitividade e de ver a sua indústria afastada das cadeias de valor mais avançadas.

Uma decisão com impacto estratégico

O debate em torno do financiamento do EIT transcende a mera gestão orçamental. Está em causa a capacidade da Europa manter um instrumento de integração entre ciência e mercado num momento em que os Estados Unidos e a China aceleram a aposta em tecnologia e inovação.

Para Portugal, a ausência de financiamento significaria perder um parceiro essencial no reforço da sua base industrial e na preparação de talento para os setores do futuro. O eventual fim do EIT não seria apenas um golpe na inovação europeia, mas também uma ameaça à convergência de países que ainda procuram reduzir o fosso tecnológico com as economias mais avançadas do continente.

foto de EIT

Conclusão

O futuro do EIT continua em aberto e dependerá das negociações do orçamento comunitário. Para Portugal, a continuidade desta instituição é estratégica: significa manter uma ponte vital entre startups, indústria, universidades e redes internacionais. Mais do que números, está em causa o rumo da política europeia de inovação e o lugar da economia portuguesa nessa visão coletiva.

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