Mais de 80% do comércio mundial de mercadorias continua a depender do transporte marítimo. Este setor, vital para a economia global, enfrenta agora uma pressão crescente: reduzir a sua pegada ambiental e alinhar-se com as metas internacionais de neutralidade carbónica. A urgência é clara — os mares não podem continuar a ser vistos apenas como corredores comerciais, mas como ecossistemas frágeis a proteger.
O desafio da descarbonização
Embora responsável por cerca de 3% das emissões globais de gases com efeito de estufa, o transporte marítimo apresenta barreiras técnicas à eletrificação, sobretudo em rotas de longa distância. O regulamento europeu FuelEU Maritime introduz metas ambiciosas, impondo reduções progressivas até 2050. Para além dos combustíveis fósseis, a aposta recai nos combustíveis de baixo carbono, na reciclagem de carbono e em soluções complementares como a captura e armazenagem de emissões. A transição é exigente, mas inevitável.
Resíduos: de ameaça a recurso
A lavagem de navios-tanque liberta águas contaminadas com óleos, químicos e hidrocarbonetos, que sem tratamento representam uma ameaça direta à biodiversidade marinha. A experiência da Eco-Oil em Setúbal demonstra como a tecnologia pode inverter esta realidade: separar, tratar e valorizar resíduos, devolvendo água limpa ao oceano e transformando hidrocarbonetos num combustível sustentável. É a economia circular aplicada ao mar, que transforma passivos ambientais em ativos de valor.
Monitorização e transparência como motores da mudança
A Organização Marítima Internacional definiu objetivos de redução de emissões de até 30% já em 2030 e neutralidade carbónica em 2050. Para lá chegar, a monitorização ambiental precisa de ser mais robusta e transparente. A fiscalização eficaz, apoiada em tecnologia de medição contínua, pode acelerar a transição, gerar confiança entre operadores e garantir que as metas não ficam apenas no papel.
Portugal e a economia azul
Com uma das maiores zonas económicas exclusivas da União Europeia e portos estrategicamente posicionados, Portugal tem condições para liderar esta transformação. A conjugação entre inovação tecnológica, rigor ambiental e visão estratégica pode colocar o país na linha da frente da economia azul.
“Na Eco-Oil, demonstramos que a sustentabilidade não é uma utopia, mas uma prática concreta”, afirma Nuno Matos, Diretor-Geral da empresa. “Ao tratar águas contaminadas e valorizar resíduos em combustível sustentável, mostramos que é possível repensar o setor marítimo com a sustentabilidade no centro da ação.”
Mais do que um imperativo ambiental, a transição do transporte marítimo é uma oportunidade para criar valor económico, proteger o oceano e garantir que os navios do futuro sejam verdadeiramente motores de um comércio mais limpo e responsável.