O mercado de trabalho português registou em agosto sinais contraditórios: enquanto o número de trabalhadores atingiu um novo máximo histórico, a taxa de desemprego subiu para 6,1%. A análise da Randstad Portugal alerta para uma inversão do padrão sazonal que historicamente caracteriza este mês.
Um máximo histórico de emprego
Segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), a população empregada aumentou em 2.100 pessoas face a julho, atingindo 5,265 milhões de trabalhadores — mais 174.700 em termos homólogos, um crescimento robusto de 3,4%. Este resultado confirma a capacidade de absorção do mercado de trabalho, mas levanta dúvidas sobre a sua sustentabilidade perante os sinais de pressão no desemprego.
Desemprego surpreende em agosto
Tradicionalmente, agosto regista uma divergência entre os números do INE e do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP). Em 2025, ambos os indicadores apontaram na mesma direção: aumento do desemprego. O INE contabilizou mais 7.700 desempregados face a julho (+2,2%), fixando-se em 341.300 pessoas. Já o IEFP registou mais 8.813 inscritos nos centros de emprego (+3%), totalizando 301.638 desempregados.
O Algarve foi a única região a contrariar a tendência, com menos 103 desempregados (-1,1%). No resto do país, o crescimento do desemprego foi transversal, com destaque para Norte (+3,9%), Centro (+3,8%) e Lisboa (+2,4%). Apesar da subida mensal, o desemprego registado caiu 3,8% em termos homólogos, confirmando uma tendência de descida face a 2024.
Impacto setorial e perfil dos desempregados
A Randstad sublinha que a subida em agosto foi “generalizada em todos os setores de atividade”, mas mais acentuada nos serviços, que acrescentaram 6.077 desempregados (+3,7%). Em termos de grupos populacionais, os homens (+4,6%) e os adultos entre os 25 e os 74 anos (+4,3%) registaram as maiores subidas, enquanto os jovens (16-24 anos) viram o desemprego recuar 4,5%.
Remunerações em recuo sazonal
Os dados da Segurança Social mostram que a remuneração média declarada em julho foi de 1.710,55 euros, uma queda mensal de 11,8% explicada por fatores sazonais, como o pagamento de subsídios. Em termos anuais, manteve-se a tendência positiva, com um crescimento de 5,2%. Lisboa continua a liderar o ranking salarial, seguida de Aveiro, enquanto Beja e Bragança ocupam as últimas posições.
Randstad: alerta para possível mudança de ciclo
Para Isabel Roseiro, diretora de marketing da Randstad Portugal, agosto trouxe “um sinal a ter em conta porque pode antecipar uma mudança de ciclo”. A especialista sublinha que “a conjugação de um crescimento superior à média histórica e a forte incidência no setor dos serviços fazem deste o segundo pior agosto da última década, sinalizando uma pressão acrescida sobre o mercado de trabalho”.
A análise conclui que, apesar da resiliência do emprego, será necessária uma resposta mais ágil das empresas e das políticas públicas para evitar que esta inversão sazonal se consolide.