Visionário iraniano e pioneiro da arte digital, Amir Shayesteh Tabar funde espiritualidade, geometria sagrada e tecnologia para propor uma nova consciência estética — um humanismo pós-digital onde o artista é o guardião do sentido e da beleza.
A consciência por trás da máquina
Em tempos de inteligência artificial e arte algorítmica, Amir Shayesteh Tabar defende que a tecnologia deve ser serva, nunca mestra, da consciência humana. “Ao longo da história da arte, o instrumento foi sempre secundário em relação à visão do artista”, recorda.
Distinguido com o Prémio Lorenzo il Magnifico na Bienal de Florença, o artista iraniano é hoje uma das vozes mais lúcidas sobre o futuro da criação. Para Shayesteh Tabar, a arte evolui com as suas ferramentas — do pigmento nas cavernas ao pixel digital —, mas a essência permanece: a verdadeira arte nasce da consciência.
“Se a consciência se mantiver acima da tecnologia, a humanidade poderá guiar a inovação em vez de ser dominada por ela”, afirma.
The Blue Symphony: harmonia entre o visível e o invisível
A sua série icónica, The Blue Symphony, nasce da frase sagrada “Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso”. Cada composição é uma arquitetura geométrica onde luz, código e espiritualidade se encontram para formar um alfabeto universal da paz.
“Espiritualidade é uma jornada interior, invisível e profundamente pessoal, enquanto a tecnologia pertence ao mundo exterior”, explica. “Mas quando a consciência domina a tecnologia, as duas podem unir-se ao serviço da arte, da verdade e da beleza.”
Criada em Teerão no final dos anos 1990, The Blue Symphony antecipou a era da arte digital certificada em blockchain. Para Shayesteh Tabar, os NFTs não representam especulação, mas continuidade — um meio de preservar a pureza das suas criações, imunes à degradação do tempo físico.
“A arte digital e os NFTs não são sobre comércio, mas sobre continuidade. Permitem que as vibrações de paz e compaixão viajem através das gerações.”
A paz como resistência e propósito
Testemunha da Revolução Iraniana e da guerra Irão-Iraque, Shayesteh Tabar transformou o trauma e a introspeção em arte meditativa. Em The Blue Symphony, o azul — cor da misericórdia e do infinito — é metáfora da eternidade e da serenidade interior.
“Criar arte hoje, num tempo de polarização, é tanto um ato de resistência como de cura”, afirma. A sua obra propõe uma espiritualidade ativa, onde o artista é mediador entre mundos — o visível e o invisível, o humano e o digital, o efémero e o eterno.
A era pós-digital e o papel do artista
Shayesteh Tabar acredita que estamos a entrar na era pós-digital, em que o valor da arte deixará de depender do suporte — pintado, programado ou tokenizado — e passará a medir-se pela profundidade da consciência que a inspira.
“Podemos dar forma à beleza com um pincel, um código ou um NFT apoiado por blockchain — tudo são extensões do mesmo impulso divino que desperta o artista”, diz. “A inteligência artificial pode imitar a forma, mas o significado só pode nascer do coração.”
De Florença a Lisboa: uma trajetória global
Ao longo das últimas duas décadas, Amir Shayesteh Tabar expôs em várias cidades da Europa e do mundo, incluindo Florença, Londres, Dubai, Almaty e Lisboa. Em Portugal, apresentou obras no festival Rare Effect, dedicado à arte digital e aos NFTs, e mais recentemente no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, onde a série The Blue Symphony foi recebida como uma reflexão sobre a harmonia entre tradição e inovação.
Vive atualmente em Lisboa, cidade que descreve como um espaço de cruzamento cultural e espiritual onde encontra serenidade para continuar a criar.
A sua visão, enraizada na herança persa e aberta ao futuro, convida o público global a ver a arte não como produto, mas como linguagem universal de consciência e paz.