A inteligência estratégica como ferramenta: Agilidade em tempos de incerteza

A OCDE 2025 destaca a inteligência estratégica como fator decisivo para governos mais ágeis, antecipativos e baseados em evidência.

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Num mundo onde a mudança se tornou permanente, a capacidade de antecipar tendências e ajustar políticas em tempo real é o novo diferencial competitivo — também para os governos. O relatório Science, technologie et innovation : Perspectives de l’OCDE 2025 defende que a inteligência estratégica deve estar no centro das políticas públicas, permitindo que os Estados se tornem mais ágeis, experimentais e resilientes.

A OCDE propõe uma mudança de paradigma: abandonar o modelo reativo, em que as políticas respondem a crises, e adotar uma abordagem proativa, sustentada por dados, foresight e experimentação. Esta inteligência antecipatória não é apenas técnica — é cultural. Requer estruturas administrativas flexíveis, equipas multidisciplinares e uma mentalidade de aprendizagem contínua.

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Da previsão à experimentação

Segundo a OCDE, práticas como a prospeção estratégica e a avaliação tecnológica podem fornecer informações antecipadas e em tempo real sobre o impacto das políticas. Em vez de se limitarem a medir resultados passados, os governos devem criar mecanismos para testar hipóteses e aprender com o erro.

A organização sugere que cada ciclo de decisão pública incorpore fases de experimentação — verdadeiros “laboratórios de políticas” — que permitam avaliar a viabilidade e os riscos antes da implementação em larga escala. Essa metodologia, comum no setor privado e em startups, começa agora a ganhar espaço na governação pública.

Ao promover esta cultura de teste e adaptação, a inteligência estratégica torna-se uma ferramenta para reduzir desperdícios, acelerar a inovação e reforçar a confiança pública na ação governativa.

Capacitar o Estado para aprender

A OCDE sublinha que a transição para políticas mais inteligentes requer também investimento em competências. Governos ágeis precisam de quadros formados em análise de dados, modelação de cenários e design de políticas experimentais. Não basta recolher informação — é preciso saber interpretá-la e transformá-la em decisões práticas.

O relatório recomenda integrar estas práticas nos programas nacionais de formação pública e criar redes de partilha entre ministérios, universidades e centros de investigação. Assim, o conhecimento deixa de ser compartimentado e passa a circular entre instituições, gerando valor coletivo.

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Portugal e o desafio da antecipação

Para Portugal, a adoção de mecanismos de inteligência estratégica pode ser determinante para aumentar a eficácia das políticas de inovação e ciência. O país dispõe já de estruturas de planeamento avançado, mas a sua integração com a decisão política continua limitada.

Projetos-piloto em foresight tecnológico, inovação pública e governança digital podem tornar-se laboratórios de referência. O desafio está em transformar essas experiências pontuais numa prática sistémica, sustentada por dados e avaliação contínua.

A inteligência estratégica, conclui a OCDE, é o que distingue governos que reagem de governos que se antecipam. Num tempo em que a incerteza é a norma, essa diferença define o sucesso — e a credibilidade — da ação pública.

Referência:

OCDE (2025), Science, technologie et innovation : Perspectives de l’OCDE 2025 : Conduire le changement dans un monde en mutation, Éditions OCDE, Paris, https://doi.org/10.1787/a7207a31-fr.

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