O custo da inovação: menos recursos, mais eficiência

Relatório da OCDE 2025 alerta para a queda dos orçamentos de I&D e defende políticas de inovação mais eficientes e coordenadas.

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A inovação global enfrenta um paradoxo: nunca houve tanta necessidade de investir em ciência e tecnologia — e nunca os recursos públicos foram tão limitados. A edição 2025 do relatório da OCDE Science, technologie et innovation : Perspectives de l’OCDE 2025 revela que, em 2024, os orçamentos de I&D caíram 1,9% na zona OCDE, sinal de um contexto de restrição orçamental que exige novas estratégias de eficiência.

Perante esta realidade, a organização defende que as políticas de inovação devem ser desenhadas de forma mais integrada, evitando redundâncias e maximizando sinergias entre instrumentos de apoio. A eficiência deixou de ser apenas uma questão financeira — tornou-se um princípio de governação.

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Fazer mais com menos

O relatório sublinha que a resposta não passa por multiplicar programas, mas por melhorar a coordenação entre políticas. Os governos precisam de alinhar incentivos fiscais, subsídios diretos e programas de cooperação, garantindo que atuam em conjunto para acelerar transformações estruturais.

A OCDE recomenda que cada país avalie o equilíbrio entre medidas de apoio direto — como financiamento competitivo — e incentivos indiretos — como deduções fiscais à I&D. Estas políticas, quando bem calibradas, funcionam de forma complementar: os incentivos fiscais estimulam o investimento privado, enquanto o apoio direto permite corrigir falhas de mercado e impulsionar áreas estratégicas.

Além disso, o relatório defende uma maior transparência na alocação de recursos e mecanismos de avaliação contínua, que permitam identificar o impacto real de cada programa e reorientar o investimento em tempo útil.

Eficiência como cultura de gestão pública

A eficiência, recorda a OCDE, não deve ser entendida como um corte de recursos, mas como uma nova cultura de gestão pública baseada em dados, colaboração e resultados. As políticas de inovação devem incorporar metodologias de monitorização e policy learning, permitindo aos governos aprender com o que funciona e abandonar o que não resulta.

Esta lógica de experimentação aproxima o setor público das práticas ágeis adotadas no setor privado. Significa também promover uma visão sistémica: a eficiência surge quando os diferentes instrumentos — ciência, tecnologia, educação, indústria — trabalham em convergência.

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Portugal: o desafio da coordenação

Em Portugal, o investimento em I&D tem vindo a crescer nos últimos anos, mas permanece vulnerável à fragmentação e à dependência de fundos europeus. A OCDE alerta que a sustentabilidade do sistema científico e tecnológico português dependerá da sua capacidade de planear de forma integrada e de adotar uma cultura de avaliação permanente.

A criação de políticas de longo prazo, articuladas entre ministérios e agências, é essencial para garantir o retorno social e económico do investimento público em inovação. Fazer mais com menos, conclui o relatório, é possível — mas exige inteligência coletiva, estabilidade institucional e uma visão partilhada de futuro.

Referência:

OCDE (2025), Science, technologie et innovation : Perspectives de l’OCDE 2025 : Conduire le changement dans un monde en mutation, Éditions OCDE, Paris, https://doi.org/10.1787/a7207a31-fr.

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