A inovação do futuro nasce nos pontos de contacto. É essa a mensagem central que a OCDE sublinha na edição 2025 do relatório Science, technologie et innovation : Perspectives de l’OCDE 2025. A convergência tecnológica — o cruzamento entre áreas antes isoladas como a biologia, a inteligência artificial, a neurociência e a computação quântica — está a redefinir o próprio conceito de ciência aplicada.
A organização mostra como a integração entre disciplinas e setores se tornou o principal motor de descoberta. Já não se trata apenas de investir em tecnologia, mas de criar ecossistemas onde diferentes campos se reforçam mutuamente, gerando soluções inéditas e acelerando a inovação.
Da biologia de síntese à inteligência artificial
Entre os exemplos citados pela OCDE estão quatro domínios onde a convergência tecnológica avança rapidamente: a biologia de síntese, as neurotecnologias, as tecnologias quânticas e a observação da Terra.
Graças à inteligência artificial, é hoje possível conceber proteínas artificiais com propriedades específicas, abrindo caminho para terapias personalizadas e novos materiais biológicos. Ao mesmo tempo, a combinação de IA com tecnologias imersivas e neurociências está a permitir tratamentos inovadores para distúrbios mentais e cognitivos.
No campo quântico, o poder de processamento atinge níveis inéditos, tornando viáveis simulações de sistemas complexos — da climatologia à farmacologia. A convergência entre observação espacial e análise de dados em tempo real está também a revolucionar a monitorização ambiental e a gestão de recursos naturais.
Espaços de convergência e políticas de futuro
O relatório propõe que os governos criem “espaços de convergência” — infraestruturas físicas, digitais e tecnológicas que aproximem cientistas, engenheiros, empreendedores e decisores políticos. Estes espaços funcionariam como plataformas partilhadas de experimentação e transferência de conhecimento, fomentando novas formas de colaboração interdisciplinar.
Para a OCDE, a convergência tecnológica não é apenas um fenómeno científico: é uma questão estratégica. A sua gestão implica rever políticas industriais, de educação e de inovação, assegurando que os benefícios se traduzam em produtividade, competitividade e bem-estar social.
Portugal e o desafio da integração
Portugal tem vindo a investir em hubs tecnológicos, laboratórios colaborativos e programas de ligação entre ciência e empresas. No entanto, a abordagem permanece fragmentada. As recomendações da OCDE apontam para a necessidade de consolidar ecossistemas nacionais de inovação que articulem universidades, startups e indústrias de ponta.
Projetos como o BioTech Hub, o INL em Braga ou os Digital Innovation Hubs europeus mostram que a convergência já começou — falta agora ampliá-la, com políticas de longo prazo e uma visão sistémica.
A convergência tecnológica é, em última análise, o ponto onde a ciência encontra a imaginação e a política encontra o futuro.
Referência:
OCDE (2025), Science, technologie et innovation : Perspectives de l’OCDE 2025 : Conduire le changement dans un monde en mutation, Éditions OCDE, Paris, https://doi.org/10.1787/a7207a31-fr.