Guilherme Fortes, fundador e diretor administrativo da Codifica Edu, falou com Bruno Perin para o Empreendedor sobre como a inteligência artificial está a redefinir a liderança e a expor quem apenas segue tendências.
Guilherme Schneider Depermann Fortes está na linha da frente de uma revolução silenciosa. À frente da Codifica Edu, empresa que forma profissionais e executivos para o novo paradigma digital, observa de perto a forma como a inteligência artificial (IA) está a transformar o tecido empresarial — não só pelas ferramentas que introduz, mas sobretudo pela forma como revela as fragilidades dos líderes que não compreendem a mudança.
“A IA vai ser o principal parceiro do board da empresa. Vai direcionar conversas, análises e decisões. O conselho geral vai ter mais IA”, antecipa Guilherme, sublinhando que os algoritmos passarão a ter voz nas salas de administração. Para o fundador da Codifica Edu, o futuro não passa por substituir o julgamento humano, mas por amplificá-lo com dados, contexto e velocidade analítica. “A IA tornar-se-á o conselheiro que nunca esquece um dado e que questiona padrões que os humanos não conseguem ver”, acrescenta.
O verdadeiro desafio dos executivos: admitir o que não sabem
Com formação em educação tecnológica e longa experiência em negócios digitais, Guilherme fala com propriedade sobre a lacuna que separa os executivos preparados dos que ainda resistem à tecnologia. “As pessoas não entenderam a base da IA para extrair bem. O C-level precisa de entender a IA — não para usar, mas para saber onde aplicar.”
Para ele, o verdadeiro obstáculo não é técnico, é psicológico: “Muitos executivos sentem-se constrangidos por admitir o que não sabem.” A Codifica Edu nasceu para colmatar precisamente essa barreira. Ao desenvolver programas que combinam estratégia, inovação e capacitação digital, a empresa tornou-se uma referência no ensino aplicado de IA e transformação empresarial.
Guilherme insiste que a aprendizagem tem de ser prática e contextual: “Faz mais sentido fazer imersões curtas e intensas do que cursos longos onde se perde o foco. É preciso conversar com pessoas, entender modelos de negócio e refletir. O networking é fundamental.”
O timing certo e a inteligência de aplicação
Essa abordagem — que conjuga observação, timing e reflexão — está no cerne da sua filosofia de liderança. “O timing não é sorte, é análise”, defende. Ao identificar o ponto de equilíbrio entre necessidade social e oportunidade comercial, Guilherme exemplifica com o programa educacional que a Codifica desenvolve na área da literacia financeira: “É um mercado muito quente, porque há jovens a serem enganados por apostas e influenciadores. É aí que está o valor real.”
A sua visão é pragmática e destoa do entusiasmo apressado que domina o discurso tecnológico. “O hype não é estratégia”, alerta. O que diferencia os líderes que prosperam nesta nova era é a inteligência de aplicação — a capacidade de entender onde a IA cria valor tangível. “Não é preciso programar. É preciso pensar estrategicamente. Criámos um agente para verificar faturas, por exemplo. Pequenas automações, grandes resultados.”
Uma nova elite de pensadores estratégicos
Guilherme acredita que a IA não está a criar uma nova elite de líderes, mas a expor quem sabe pensar estrategicamente. “Os que dominam a IA não são os que sabem mais tecnologia — são os que sabem fazer as perguntas certas.”
E deixa uma provocação final, que serve de diagnóstico e aviso: “Está a construir competência em IA para liderar a transformação ou à espera que alguém traduza o futuro por si?”