Talento e Cultura Empreendedora: o Novo Pilar da Competitividade Europeia

Um diagnóstico sobre o potencial humano europeu

Na foto: Apresentação do relatório da ESNA no Innovation Radar Prize 2025

O mais recente estudo publicado pela Europe Startup Nations Alliance (ESNA), Building a Competitive Europe: Talent and Entrepreneurial Culture, propõe uma leitura profunda sobre o papel do talento e da cultura empreendedora na Europa como motores centrais da competitividade global. O documento identifica o capital humano e a mentalidade empreendedora como os recursos estratégicos mais determinantes para a próxima década económica europeia.

O relatório foi apresentado durante o Innovation Radar Prize 2025, em Lisboa, e é o terceiro volume de uma série estratégica dedicada à implementação da EU Startup and Scaleup Strategy. Intitulado “Building a Competitive Europe: The Role of Startup and Scaleup Ecosystems – Joint Volume III and IV: Talent and Entrepreneurial Culture”, o documento reforça a importância do talento e da cultura empreendedora como pilares centrais da competitividade europeia.

Com base em práticas nacionais, dados comparativos e correlações entre onze indústrias críticas, o relatório analisa a forma como os ecossistemas de startups e scaleups podem acelerar a transição para um modelo económico mais ágil, digital e sustentável.

Na foto: Apresentação do relatório da ESNA no Innovation Radar Prize 2025

Talento e cultura empreendedora como ativos estratégicos

A publicação surge num momento em que a Europa procura consolidar a sua posição global em inovação, propondo uma visão integrada sobre como o talento humano e a mentalidade empreendedora sustentam o crescimento económico. O relatório destaca que “assumir riscos e abraçar a incerteza são condições essenciais para o futuro competitivo da Europa”, sublinhando a necessidade de políticas que incentivem a aprendizagem contínua, a requalificação e a mobilidade transnacional de talento.

Ao articular boas práticas nacionais, mapear as EU Missions com setores estratégicos e correlacionar competências críticas em onze indústrias-chave, o documento oferece uma ferramenta prática para decisores políticos compreenderem o dilema do talento e o impacto de uma cultura que valoriza o empreendedorismo.

Foto de Christian Creutz / União Europeia

Um roteiro para políticas mais eficazes

O novo volume integra-se na série iniciada pela ESNA para apoiar a estratégia europeia de startups e scaleups. Com contributos do Advisory Board e parceiros da rede ESNA, o relatório alia prospetiva estratégica e análise empírica, transformando a ambição política europeia em orientações concretas para reformas nacionais.

As recomendações centram-se em três áreas: requalificação e aprendizagem ao longo da vida, atração de talento global e retenção de profissionais altamente qualificados. Entre as propostas, destaca-se a criação de um “28th Regime for Talent”, destinado a harmonizar vistos, mobilidade e reconhecimento de qualificações em toda a União Europeia, bem como o reforço dos planos de participação acionista (ESOPs) para tornar a propriedade empreendedora mais competitiva.

No domínio da cultura empreendedora, o relatório defende a promoção do empreendedorismo como carreira de prestígio, o apoio a redes de mentoria e o enraizamento de um modelo de inovação europeu assente em inclusão, sustentabilidade e soberania tecnológica.

Do talento técnico à cultura de risco

Entre as conclusões mais relevantes, a ESNA sublinha que a Europa não enfrenta apenas uma escassez de competências técnicas, mas também um défice cultural de aceitação do risco e valorização do fracasso. A construção de uma verdadeira cultura empreendedora, defende o documento, exige políticas públicas que promovam a aprendizagem contínua, a mobilidade e a experimentação.

As recomendações incluem o reforço dos programas de requalificação e aprendizagem ao longo da vida, com foco em deep tech, clean tech, saúde e inteligência artificial, bem como o alinhamento entre a formação de talentos e as necessidades reais das startups e scaleups, e não apenas das grandes empresas.

Imagem de freepik

Mobilidade, propriedade e retenção de talento

Para tornar o mercado europeu mais atrativo, a ESNA propõe a criação de um “28.º Regime para o Talento”, que harmonize vistos, mobilidade e reconhecimento de qualificações em toda a União Europeia. A iniciativa pretende eliminar barreiras burocráticas e posicionar a Europa como destino global de profissionais altamente qualificados.

O relatório destaca ainda a importância de modelos de participação acionista (ESOPs) mais competitivos, que estimulem a retenção de talentos e reforcem a ligação entre colaboradores e crescimento empresarial. As universidades e centros de investigação devem, por seu turno, assumir um papel mais ativo na transição de investigadores e engenheiros para o ecossistema de startups.

Imagem de Machnata em Freepik

Reforçar a identidade empreendedora europeia

No eixo dedicado à cultura empreendedora, a ESNA defende uma mudança de paradigma: o empreendedorismo deve ser reconhecido como carreira legítima e socialmente valorizada. Para isso, recomenda políticas de promoção de modelos de sucesso, redes de mentoria acessíveis e programas que fortaleçam a literacia financeira e a resiliência.

Segundo Arthur Jordão, diretor-executivo da ESNA, “através da colaboração, da antecipação estratégica e da ação decidida, a Europa pode desbloquear o potencial do seu capital humano e garantir que o espírito empreendedor continue a moldar o futuro do continente”.

Ao articular políticas públicas, educação e mentalidade de risco, o relatório coloca o talento e a cultura empreendedora na Europa no centro da agenda estratégica da União. A competitividade, conclui a ESNA, não depende apenas de investimento e tecnologia, mas de pessoas capazes de transformar conhecimento em inovação e de liderar a mudança com visão e coragem.

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