Neste artigo de opinião, Dalius Šimaitis, CEO da PortalPRO, defende que a verdadeira disrupção começa com necessidades, através da observação e da empatia — e não com o lançamento de novas tecnologias.
No mundo dos negócios, a disrupção é frequentemente apresentada como algo estrondoso, como o lançamento de uma tecnologia revolucionária ou uma mudança repentina que transforma por completo um setor. Mas, na minha perspetiva, a disrupção é algo mais silencioso: uma mudança intencional baseada em visão, coragem e empatia. A verdadeira transformação começa com uma compreensão clara do mercado e com a capacidade de identificar as rotinas que mantêm o status quo e impedem o próximo salto em frente.
Rotinas: o conforto que bloqueia o progresso
Em todas as organizações, as rotinas são essenciais ‑ mantêm a atividade em funcionamento e criam previsibilidade. Porém, essas mesmas rotinas podem tornar-se barreiras invisíveis, difíceis de ultrapassar. As regras e tradições empresariais tendem a consolidar formas de trabalhar que se repetem ano após ano. Mesmo quando existe espaço para melhorar, muitas pessoas hesitam em agir, por receio de perder influência ou estatuto. Assim, o maior obstáculo ao progresso pode não ser a tecnologia ou o talento, mas sim a estabilidade cómodo que resulta da repetição.

Ver o que outros não veem
As verdadeiras barreiras ao progresso raramente aparecem nos relatórios de gestão. Surgem, sim, em conversas francas no terreno onde se acumulam frustrações, atrasos e soluções improvisadas. Não basta analisar estudos de mercado ou apresentações de setor. A visão mais valiosa nasce ao falar com quem executa o trabalho, enfrenta gargalos operacionais e vive os desafios que as equipas de liderança nem sempre conseguem ver.
A chave está na curiosidade: escavar detalhes e fazer perguntas até que o problema real se revele. Quando alguém que trabalha diretamente num processo afirma: “Isto tornaria o nosso trabalho muito mais fácil”, temos o verdadeiro teste e a verdadeira prova. Se uma mudança resolve dores concretas, e não teorias de gestão, a procura surge naturalmente e a motivação para experimentar ganha raízes. É aí que começa a disrupção de mercado com impacto real.

O valor de focar antes de acelerar
Há sempre riscos quando tentamos enfrentar as maiores dores de um mercado. Um dos erros mais comuns é tentar responder a todas as ideias ao mesmo tempo. Sem foco, a energia dispersa-se e perde-se tração. Aprendi a importância de reduzir o âmbito de ação. Muitas vezes, isso significa dizer não a projetos promissores ou adiar a entrada noutros mercados. Mas concentrar energia é a melhor forma de dar condições a um plano arriscado para realmente avançar.

A liderança do futuro
Na próxima década, a liderança capaz de gerar disrupção dependerá menos de visões abstratas e mais de envolvimento direto com os problemas reais. Os líderes que vão marcar a diferença serão aqueles que observam de perto como se trabalha, como os processos mudam com novas ferramentas e como a tecnologia redefine o quotidiano.
Uma forma discreta, mas poderosa, de apoiar a inovação é criar segurança para experimentar. Os resultados são melhores quando os líderes protegem tempo e espaço para que as equipas possam testar ideias, colocar questões e aprender em ciclos controlados. Quando existe confiança mesmo perante possíveis falhas, a mudança torna-se possível.
Mais importante ainda: liderar não é prever tudo, mas orientar na direção certa. O sucesso não está nas ideias que recebem prémios ou aplausos, mas naquelas que são usadas, simplificam o trabalho e geram valor real. A validação que conta é aquela que se traduz em adoção e investimento — não em palavras, mas em ação.

Continuar humano enquanto se acelera
Num processo de disrupção, o mais importante é não perder de vista as pessoas. A mudança falha quando empurra os colaboradores para fora, em vez de os convidar a participar. O progresso acontece quando todos — e não apenas os líderes — percebem por que motivo se está a mudar e como podem contribuir.
Nenhuma tecnologia consegue substituir a confiança e o sentido de apoio que mantêm as equipas unidas em tempos incertos. O crescimento não se mede apenas pelos resultados; mede-se pela capacidade de continuar humano, curioso e motivado num mundo em transformação. No fim, manter a dimensão humana não é um luxo, mas é o ingrediente base de qualquer disrupção que perdure.







