O State of European Tech 2025, publicado pela Atomico, indica uma recuperação sólida do ecossistema tecnológico europeu, com maior confiança entre fundadores, crescimento do deeptech e novos unicórnios. Portugal surge neste panorama com a entrada da Tekever no grupo das empresas avaliadas acima de mil milhões de dólares e com Lisboa destacada como um dos hubs emergentes na Europa.
O relatório State of European Tech 2025 confirma que a Europa vive um momento de expansão tecnológica marcado por maturidade e resiliência. A valorização conjunta das empresas tecnológicas públicas e privadas aproxima-se dos quatro biliões de dólares, reforçando o contributo do setor para a economia europeia. A Atomico sublinha que o ecossistema emprega já 4,6 milhões de pessoas e cresce a um ritmo superior ao dos Estados Unidos, revelando maior capacidade de retenção e atração de talento global.

De acordo com o relatório, o otimismo regressou ao ecossistema: metade das pessoas fundadoras e investidores afirma estar mais confiante do que há um ano, e 42% considera mais atrativo iniciar uma startup hoje do que nos dois anos anteriores. O financiamento acompanha esta tendência. A projeção de 44 mil milhões de dólares investidos em 2025 coloca o ano entre os mais fortes desde 2021, com 28 novos unicórnios a surgirem no período analisado.
A tendência de crescimento é alimentada sobretudo pelo deeptech, que capta 36% do total de investimento europeu, e por um reforço das tecnologias de defesa, que registam 1,6 mil milhões de dólares angariados até ao final do terceiro trimestre. O relatório identifica ainda uma mudança estrutural na economia tecnológica, com a transição do foco em consumer tech para infraestruturas digitais, inteligência artificial aplicada, energia e sustentabilidade.

Talento e capital marcam o ritmo europeu
Segundo o relatório, a Europa mantém-se como um polo líquido de talento tecnológico, beneficiando de mobilidade, qualidade de formação e uma motivação crescente para construir empresas em território europeu. A Atomico observa que a maioria dos fundadores vê “construir na Europa” como parte do seu propósito, um indicador que contrasta com a visão mais orientada para a migração observada em anos anteriores.
O financiamento, embora robusto, enfrenta desafios estruturais. O relatório identifica a escassez de vias de saída ‑ nomeadamente operações de M&A ‑como o principal entrave à expansão dos fundos europeus. A participação dos fundos de pensões permanece reduzida, representando apenas 0,01% dos ativos sob gestão, valor que a Atomico descreve como uma oportunidade perdida de cerca de 210 mil milhões de dólares caso a Europa atingisse níveis de investimento equiparáveis aos dos Estados Unidos.
A Sifted, que analisou as tendências gerais desta edição, salienta que os incentivos para relocalização continuam a favorecer o mercado norte-americano, especialmente para fundadores que procuram maior acesso a capital e ciclos mais rápidos de aquisição de clientes.

Portugal no mapa europeu: unicórnio, investimento e Lisboa como hub
O State of European Tech 2025 dedica atenção reforçada à dinâmica dos países intermédios no investimento tecnológico, e Portugal surge nesse grupo. Num dos gráficos de capital investido entre 2024 e 2025, Portugal aparece integrado no bloco dos países que contribuem para a consolidação do investimento europeu, acompanhado por mercados como Bélgica, Dinamarca, Estónia e Polónia. Embora não figure no top-10 de investimento, o país mantém presença estável e alinhada com os principais mercados emergentes do continente.
O dado mais relevante, contudo, é a entrada da portuguesa Tekever para o grupo de unicórnios europeus. O relatório destaca a empresa como exemplo da vitalidade das tecnologias de defesa, referindo “Tekever, uma defence tech portuguesa” entre os casos que demonstram a capacidade do continente para produzir líderes globais. A inclusão da Tekever reforça o posicionamento de Portugal num dos setores de maior crescimento do ecossistema tecnológico.
Lisboa é também mencionada no relatório como uma das cidades onde emergem “world-class leaders”, a par de Estocolmo e Amesterdão, evidenciando o reconhecimento internacional do ecossistema português. Esta referência reforça a tendência observada ao longo dos últimos anos: a capital portuguesa consolidou-se como destino preferencial para startups internacionais, eventos tecnológicos e talento global.

Um caminho europeu com impacto nacional
O relatório da Atomico traça uma narrativa de confiança renovada e ambição crescente para o ecossistema europeu. Portugal surge integrado nessa trajetória, tanto pelo reconhecimento de Lisboa como hub relevante como pela ascensão da Tekever ao patamar dos unicórnios, num dos setores estratégicos em maior expansão.
O State of European Tech 2025 confirma que, apesar dos desafios persistentes — desde a falta de capital de longo prazo até ao défice de operações de saída —, a Europa mantém bases sólidas para liderar áreas como deeptech, inteligência artificial e tecnologias de defesa. Para Portugal, este movimento abre novas oportunidades para consolidar talento, atrair investimento e reforçar a posição no mapa tecnológico europeu.







