Neste texto, Rita Quaresma, COO da Gestlifes, defende que a consolidação de créditos deve ser encarada como uma decisão estratégica para recuperar equilíbrio financeiro e bem-estar emocional, quando usada com disciplina e inserida num plano de gestão responsável.
A consolidação de créditos continua a ser vista como uma solução “de último recurso”.
Não é. É uma ferramenta financeira legítima, útil e frequentemente subestimada, sobretudo por quem vive sob pressão mensal, com várias prestações espalhadas por diferentes credores.
O problema é que muitos só a consideram quando o orçamento já está em rutura. Nessa fase, o espaço de manobra é menor e as opções são sempre mais limitadas.
“A consolidação de créditos não é uma solução de último recurso — é uma ferramenta legítima para recuperar equilíbrio financeiro e paz mental.”
Não, o crédito consolidado não é uma varinha mágica, mas é um caminho viável para reorganizar dívidas. Ao juntar vários empréstimos num só, pode reduzir significativamente a prestação mensal — nalguns casos até 60% dos encargos atuais. Para uma família que está com “a corda na garganta”, esta solução representa, mais do que liquidez imediata, paz mental.
Contudo, a consolidação também não deve ser romantizada. Esta estratégia funciona para quem encara a medida como parte de um plano maior.
A experiência mostra-me que os casos de sucesso têm quase sempre três ingredientes: uma análise fria dos números, disciplina e uma mudança consistente nos hábitos financeiros. Se os consumidores não tiverem consciência disto, podem cair na “ilusão de riqueza”: ao ver sobrar dinheiro na conta, voltam a contrair novas dívidas, criando uma bola de neve ainda maior do que a original.
“A folga orçamental criada deve servir para construir um fundo de emergência, nunca para alimentar a ilusão de riqueza.”
Ora, a primeira regra é ponderação e sobriedade. A folga orçamental criada não deve servir para aumentar o consumo, mas sim para criar um fundo de emergência. É aí que reside o grande potencial do crédito consolidado. Se utilizado preventivamente ‑ e não reativamente ‑ ajuda a recuperar o equilíbrio financeiro.
Num país onde muitas famílias vivem com o orçamento no limite, ignorar esta alternativa por desinformação, ou mesmo por preconceito, é perder uma oportunidade de estabilização que pode fazer toda a diferença, quer para a carteira, quer para a mente.