A transição energética europeia entrou numa fase crítica: a eletrificação acelera, as renováveis crescem e a segurança energética tornou-se um ativo geopolítico. No entanto, as redes elétricas continuam a ser o elo mais frágil do sistema. O European Grids Package, apresentado pela Comissão Europeia, reconhece este desfasamento e coloca a modernização das redes no centro da competitividade europeia.
Com 40% das redes com mais de 40 anos, subinvestimento crónico e processos de licenciamento que podem ultrapassar uma década, a Europa enfrenta custos económicos elevados, desperdício de produção renovável e riscos crescentes para consumidores e indústria.

Flexibilidade e digitalização como mudança de paradigma
O pacote europeu propõe uma viragem estrutural: redes ativas, digitais e flexíveis, capazes de gerir produção descentralizada, armazenamento e procura inteligente. A flexibilidade deixa de ser um conceito técnico para assumir valor económico, com benefícios potenciais de dezenas de milhares de milhões de euros para consumidores e empresas.
Como sublinhou Laurent Bataille, da Schneider Electric, o desafio europeu já não é tecnológico, mas de implementação: acelerar investimento, capacitar reguladores e recompensar soluções inteligentes em vez de reforços físicos ineficientes.

Portugal: de vulnerabilidade a posição estratégica
Portugal surge neste contexto com uma dupla condição. Por um lado, o apagão ibérico de 2025 expôs fragilidades reais na rede e na dependência das interligações. Por outro, o país posicionou-se rapidamente como parte da solução europeia, integrando projetos prioritários de interconexão, reforçando o investimento na rede e assumindo ambição na digitalização e no armazenamento.
O plano nacional de modernização da rede, anunciado em 2025, aposta na resiliência, na gestão inteligente e na integração renovável, alinhando-se diretamente com os objetivos do European Grids Package. Este alinhamento coloca Portugal entre os países chamados a liderar a próxima fase da transição energética europeia.

Uma decisão económica, não apenas energética
O European Grids Package é, em última análise, uma decisão sobre crescimento, competitividade e soberania. Para Portugal, representa uma oportunidade clara: transformar a eletrificação e as renováveis num ativo económico estruturante. O risco é igualmente evidente: sem execução rápida e coordenação regulatória, a vantagem estratégica pode dissipar-se.
A rede elétrica deixou de ser infraestrutura invisível. É agora um fator decisivo para o futuro económico europeu e Portugal está, desta vez, no centro da equação.







