Inovação na Europa enfrenta o custo estrutural do risco laboral

Inovação na Europa enfrenta entraves estruturais ligados ao custo do risco laboral e à dificuldade de adaptação do mercado de trabalho.

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Inovação na Europa tornou-se um tema recorrente nos diagnósticos sobre competitividade global, mas o debate tem-se concentrado sobretudo em capital, talento e tecnologia. Menos visível ‑ e politicamente mais sensível ‑ é a discussão sobre o papel da proteção do emprego na forma como as empresas europeias avaliam o risco, encerram projetos e decidem investir. Um conjunto crescente de análises aponta para um problema estrutural: num contexto de elevada incerteza, o custo de falhar tornou-se demasiado elevado.

O custo da falha num sistema desenhado para a estabilidade

A tese de que a rigidez laboral limita a inovação não é nova, mas ganhou renovada atenção em 2025. Segundo Oliver Coste, antigo responsável na Comissão Europeia e no gabinete do primeiro-ministro francês, os elevados custos associados à reestruturação e ao despedimento criam um ambiente empresarial avesso ao risco. Quanto mais oneroso for encerrar um projeto ou corrigir uma decisão de contratação, maior é a tendência para adiar apostas ousadas.

Esta leitura é partilhada por análises recentes do The Economist, que descrevem a Europa como um espaço onde a proteção social, embora historicamente justificada, acabou por transformar o erro empresarial num problema quase irreversível. Num ambiente assim, experimentar torna-se exceção e não regra, penalizando setores onde a inovação depende de ciclos rápidos de tentativa e falha.

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Estados Unidos e China: modelos diferentes, mesma velocidade

O contraste com os Estados Unidos é frequentemente citado. A maior flexibilidade do mercado de trabalho norte-americano permite ajustes rápidos, mesmo quando decisões iniciais se revelam erradas. Essa agilidade tem custos sociais, mas facilita a realocação de recursos e acelera a aprendizagem organizacional. Na China, o enquadramento é distinto, mas o resultado é semelhante: projetos são encerrados sem grande fricção institucional e o capital é rapidamente redirecionado para novas prioridades estratégicas.

A Europa, pelo contrário, paga um “prémio de segurança” elevado. O modelo social europeu continua a ser uma referência em proteção dos trabalhadores, mas enfrenta dificuldades em adaptar-se a uma economia marcada por inovação contínua, disrupção tecnológica e reestruturações frequentes.

Os modelos nórdicos e o desafio da replicação

Alguns países europeus são frequentemente apontados como exceções. Dinamarca, Suécia e Suíça conseguiram combinar flexibilidade laboral com fortes redes de proteção social. Estes sistemas assentam numa confiança institucional elevada, políticas ativas de emprego e mecanismos eficazes de requalificação profissional.

O problema, sublinhado por vários analistas, é que estes modelos são difíceis de transpor para economias maiores e mais heterogéneas. A flexibilidade não resulta apenas da lei, mas de um ecossistema institucional e cultural que levou décadas a consolidar-se.

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O impacto indireto sobre startups e ecossistemas de inovação

A rigidez laboral não afeta apenas as grandes empresas. Quando estas adiam investimentos, evitam pilotos ou prolongam projetos pouco eficazes, o efeito propaga-se a todo o ecossistema. Startups dependem frequentemente de grandes organizações como clientes, parceiras ou primeiras adotantes. Se essas decisões se tornam lentas e cautelosas, a inovação trava.

Este fenómeno foi descrito por Luigi Lenguito, CEO da BforeAI, ao justificar a mudança da sua empresa da Europa para os Estados Unidos. Segundo o gestor, a dificuldade em corrigir erros de contratação e em ajustar equipas rapidamente tornou-se um fator determinante nas decisões de localização.

Reformar sem romper: um dilema europeu

O debate sobre inovação na Europa não pode ser reduzido a uma oposição simplista entre flexibilidade e proteção. O modelo social europeu é um ativo político e civilizacional, mas enfrenta uma pressão crescente para se adaptar a uma economia em mutação acelerada. As próprias instituições europeias reconhecem a necessidade de reduzir o desemprego e promover a mobilidade laboral, embora o caminho para reformas estruturais permaneça politicamente delicado.

A questão central já não é se a Europa deve proteger o emprego – embora esse consenso se mantenha ‑ mas se o atual equilíbrio continua adequado a um contexto onde a inovação exige velocidade, experimentação e capacidade de correção rápida. Se não ajustar esse equilíbrio, a inovação na Europa corre o risco de permanecer forte na ideia, mas frágil na execução.

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