A era da incerteza permanente

Relatório da OCDE 2025 destaca a importância de governos ágeis e colaborativos para enfrentar um mundo em rápida mudança.

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Vivemos num tempo em que a mudança é a única constante. Crises sanitárias, tensões geopolíticas e transições digitais colocam os governos perante uma exigência inédita: agir com rapidez sem perder coerência. O relatório da OCDE Science, technologie et innovation : Perspectives de l’OCDE 2025 propõe uma resposta clara — governos ágeis, capazes de adaptar políticas, estruturas e processos à velocidade da transformação global.

A agilidade governamental não é apenas um conceito administrativo. É um novo paradigma de gestão pública que combina visão estratégica, experimentação e coordenação interinstitucional. Segundo a OCDE, este modelo permite aos Estados antecipar desafios, reagir com flexibilidade e aprender com a prática.

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Agilidade é cultura, não apenas estrutura

A OCDE sublinha que a agilidade não se alcança apenas com reformas orgânicas, mas com mudança cultural. Significa substituir hierarquias rígidas por redes colaborativas, integrar equipas multidisciplinares e valorizar a aprendizagem contínua dentro da administração pública.

Essa transformação requer novas competências — em análise de dados, comunicação, gestão de risco e design de políticas. Para tal, o relatório defende o investimento em formação de líderes públicos capazes de pensar sistemicamente, agir em contextos incertos e coordenar múltiplos atores em torno de objetivos comuns.

A agilidade não é sinónimo de improvisação: é a capacidade de responder rapidamente, com base em evidência e inteligência estratégica.

Da burocracia à inteligência adaptativa

Segundo a OCDE, a rigidez burocrática tradicional é um dos principais entraves à inovação pública. Para superá-la, propõe-se uma administração inteligente, que use dados em tempo real para monitorizar políticas, ajustar medidas e melhorar continuamente os resultados.

A tecnologia, especialmente a inteligência artificial e a automatização de processos, pode ser um aliado decisivo — mas o foco deve permanecer nas pessoas. A agilidade governamental depende tanto de infraestruturas digitais como de lideranças que saibam promover a colaboração e a confiança dentro do sistema público.

Na foto: Luís Montenegro, Primeiro-Ministro do Governo de Portugal, na MEO Arena em Lisboa, em 11 de novembro de 2024; Foto de Carlos Rodrigues/Web Summit via Sportsfile

Portugal e o desafio de modernizar o Estado

Portugal tem dado sinais positivos na modernização da administração pública — desde a desmaterialização de serviços à criação de laboratórios de inovação como o LabX. Contudo, a OCDE recomenda ir mais longe: consolidar uma governação transversal, reduzir redundâncias administrativas e fortalecer a capacidade de execução das políticas públicas.

A transição para governos ágeis exige também métricas claras e mecanismos de aprendizagem institucional. O país dispõe de uma geração de gestores públicos com competências digitais e visão reformista; o desafio está em criar um ambiente organizacional que lhes permita inovar.

Num mundo em mudança acelerada, a rigidez é um luxo que nenhum Estado pode pagar. Os governos ágeis, conclui a OCDE, serão os que transformam a incerteza em oportunidade.

Referência:

OCDE (2025), Science, technologie et innovation : Perspectives de l’OCDE 2025 : Conduire le changement dans un monde en mutation, Éditions OCDE, Paris, https://doi.org/10.1787/a7207a31-fr.

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