Chatbots financeiros: quando a confiança se transforma em risco

IA pode parecer útil, mas dar ouvidos a conselhos sobre crédito errados pode ter custos elevados.

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A facilidade de acesso à inteligência artificial tem vindo a transformar o comportamento dos consumidores — e a área financeira não é exceção. Com um simples pedido, muitos utilizadores recorrem hoje a assistentes de IA para obter conselhos sobre crédito. Mas será sensato confiar nesses sistemas? A resposta, segundo o CréditoPessoal.pt, é um claro “não sem validação”.

Os especialistas da plataforma testaram várias ferramentas de IA, simulando perguntas frequentes de quem procura financiamento. O resultado revelou um cenário preocupante: erros factuais, omissões relevantes, conceitos mal aplicados e sugestões que podem colocar os consumidores em risco financeiro real.

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Informação errada, segurança aparente

Entre as respostas analisadas, algumas destacaram-se pela gravidade. Chatbots listaram instituições bancárias inexistentes, como a “Instituição do Microcrédito”, e atribuíram condições de crédito incorretas a entidades reconhecidas. Tudo isto apresentado com a mesma segurança com que se explicaria a soma de dois números.

“Essa confiança aparente é o verdadeiro perigo”, sublinha Tiago Pestana, analista de crédito. “A IA fala com autoridade, mesmo quando está errada. E isso pode induzir os utilizadores a aceitar conselhos sem questionar.”

Para além das imprecisões, há um outro problema silencioso: o que a IA deixa de fora. Ao limitar as sugestões a grandes bancos, muitos dos comparadores baseados em IA ignoram alternativas competitivas que existem no mercado, nomeadamente propostas de instituições mais pequenas com taxas mais favoráveis.

Resposta da IA sugerindo consultar uma entidade que não existe. (Fonte: CréditoPessoal.pt)

Termos errados, conceitos confusos

A desinformação estende-se ao vocabulário técnico. Em vez de usar a designação legal “TAEG”, foram encontradas expressões inventadas como “Custo Total Efetivo” — uma confusão que, para muitos consumidores, pode comprometer decisões importantes.

Outro ponto crítico é a apresentação de cenários de crédito desfasados da realidade. Numa das respostas, um chatbot sugeria que um crédito pessoal de 10.000 euros para obras poderia ter uma taxa de juro de 6%. No mercado atual, propostas reais para esse tipo de crédito rondam frequentemente os 10% a 16%. Um erro assim pode levar um consumidor a fazer planos com base num cenário que simplesmente não existe.

Resposta da IA sugerindo taxas de juro que não correspondem à realidade. (Fonte: CréditoPessoal.pt)

Sugestões que ninguém deveria ouvir

Mais grave ainda, alguns assistentes recomendaram aumentar o limite do cartão de crédito para fazer face a prestações ou recorrer a empréstimos informais. Estas “dicas”, apresentadas como soluções simples, ignoram completamente os riscos associados — do sobre-endividamento à degradação do historial de crédito.

A promessa de soluções rápidas e personalizadas atrai cada vez mais utilizadores, mas confiar exclusivamente em conselhos sobre crédito fornecidos por IA é, no mínimo, imprudente. Segundo o CréditoPessoal.pt, o mais seguro continua a ser:

  • Comparar propostas com recurso a simuladores atualizados;
  • Procurar aconselhamento junto de intermediários de crédito autorizados;
  • Manter espírito crítico perante respostas genéricas ou demasiado simplistas.

A IA pode ser útil, mas no acesso ao crédito, a informação errada tem um custo — e raramente é baixo.

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