Cidadãos como cientistas: a nova fronteira da participação

A OCDE 2025 propõe a ciência cidadã como via para aproximar investigação, sociedade e inovação democrática.

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Durante séculos, a ciência foi vista como domínio restrito de especialistas. Hoje, essa fronteira começa a diluir-se. A OCDE, no relatório Science, technologie et innovation : Perspectives de l’OCDE 2025, identifica a ciência cidadã como uma das tendências mais transformadoras da próxima década: um modelo em que os cidadãos participam ativamente na produção de conhecimento, ampliando a legitimidade e o impacto social da investigação.

Este novo paradigma assenta na ideia de que a ciência é um bem comum — e, como tal, deve ser cocriada. Desde a recolha de dados ambientais até à monitorização de políticas públicas, as contribuições individuais e comunitárias estão a tornar-se parte integrante do processo científico.

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Participar é também inovar

A OCDE sublinha que a ciência cidadã não se limita a projetos simbólicos ou educativos. Trata-se de uma ferramenta de inovação democrática, capaz de enriquecer a base factual das políticas públicas e de acelerar a transferência de conhecimento.

Ao envolver cidadãos, escolas e organizações locais, os projetos de ciência cidadã criam redes de colaboração que transcendem o laboratório. Essas redes não apenas multiplicam a capacidade de recolha de dados, como promovem a literacia científica e fortalecem o vínculo entre ciência e sociedade.

Os governos, por sua vez, devem apoiar esta abordagem com programas de financiamento dedicados, plataformas digitais colaborativas e estratégias de comunicação acessíveis, garantindo que a participação é real e produtiva.

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Da observação à coautoria

O relatório da OCDE recomenda que os sistemas científicos valorizem a participação cidadã de forma estruturada. Isso inclui reconhecer a coautoria em publicações, integrar a ciência cidadã nos currículos escolares e usar as metodologias participativas em áreas como a saúde, o ambiente e o urbanismo.

Ao fazê-lo, a ciência ganha não apenas mais olhos e mãos, mas também novas perguntas. E é dessas perguntas que nascem as inovações mais relevantes — aquelas que respondem a preocupações reais da sociedade.

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Portugal e a cidadania científica

Em Portugal, vários projetos pioneiros mostram como a ciência cidadã pode gerar impacto tangível. Iniciativas como o Mar à Vista (observação de biodiversidade marinha), o Climáximo Labs ou a Rede Portuguesa de Ciência Cidadã aproximam universidades, escolas e comunidades locais em torno de objetivos comuns.

Contudo, a OCDE aponta a necessidade de institucionalizar esta prática, tornando-a parte das políticas de investigação e inovação. O país tem capital humano e infraestruturas para liderar nesta área — falta apenas consolidar a ligação entre ciência e participação.

A ciência cidadã é, afinal, o ponto em que o conhecimento se torna coletivo — e o futuro da inovação, verdadeiramente partilhado.

Referência:

OCDE (2025), Science, technologie et innovation : Perspectives de l’OCDE 2025 : Conduire le changement dans un monde en mutation, Éditions OCDE, Paris, https://doi.org/10.1787/a7207a31-fr.

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