Dar Continuidade ao Legado Empresarial: A Missão de Filipe Bergaña

Filipe Bergaña quer adquirir uma empresa familiar ibérica sem sucessão e assegurar-lhe crescimento com respeito pelo legado.

Na foto: Filipe Bergaña fundador da Audaz Capital

Depois de duas décadas na gestão de investimentos em Londres, Filipe Bergaña fundou a Audaz Capital com um objetivo claro: adquirir uma única empresa familiar ibérica, sem sucessão definida, e assegurar-lhe continuidade, crescimento e identidade.

Em entrevista à revista Empreendedor, Filipe Bergaña partilha a motivação por detrás da criação da Audaz Capital e uma visão diferenciadora sobre a sucessão empresarial em Portugal e Espanha. “Durante 20 anos, a única coisa que fiz foi identificar boas empresas. Trabalhei em Londres, em casas como a BlackRock e a Fidelity. Agora, quero comprar uma empresa que vou administrar e fazer crescer — não para vender, mas para preservar e desenvolver.”

A abordagem é singular: não se trata de investir em múltiplas participações, como faz o private equity tradicional. Bergaña está à procura de uma só empresa que reúna três critérios essenciais: diferenciação no serviço ou produto, capacidade de gerar receitas recorrentes e uma geração consistente de caixa. “Tem que ter algum elemento que a torne diferente. E a recorrência é fundamental: um bem ou serviço com função crítica, mas de custo residual, é muitas vezes o que garante sustentabilidade”, explica.

Foto de Shurkin Son em Freepik

Empresas sem sucessão e o dilema da continuidade

A lacuna de sucessão nas empresas familiares é, segundo Filipe Bergaña, uma realidade transversal na Península Ibérica. “A estrutura produtiva é mais atomizada do que na Alemanha ou Inglaterra. Há milhares de empresas pequenas. Muitas vezes, os fundadores não têm descendência ou os filhos não querem — ou não podem — continuar o negócio.” Nestes casos, a venda é inevitável, mas Bergaña distingue a sua proposta da lógica especulativa de muitos fundos: “O private equity tradicional visa maximizar a mais-valia a curto prazo. Eu procuro preservar e acrescentar valor a longo prazo.”

Nos últimos meses, já analisou cerca de duas mil empresas e falou com 150 empresários. O objetivo é claro: encontrar aquela que será a empresa âncora. “No princípio receava não ser bem recebido, mas a verdade é que fui surpreendido pela abertura e confiança. E isso também se deve ao tipo de empresas a que me dirijo — empresas sólidas, bem geridas, com líderes que reconhecem valor numa abordagem séria.”

Foto de Prostooleh em Freepik

Um investidor de longo prazo para um compromisso duradouro

O modelo de financiamento da Audaz Capital assenta num grupo restrito de investidores privados, com perfil de longo prazo. “São sobretudo patrimónios familiares, que não procuram liquidez, mas sim criar valor de forma sustentada. Quando encontrar a empresa certa, volto a eles com uma proposta e são eles que financiam a aquisição.” A compra, reforça, será sempre total: “É fundamental haver um novo dono. Se o anterior mantém uma participação, a cadeia de comando dilui-se. Não pode haver ambiguidade sobre quem lidera.”

“Quero comprar uma grande empresa e fazê-la ainda maior. Não para vender. Para dar continuidade ao que de melhor já foi feito.”

Indústria no norte, potencial por escalar

Durante a pesquisa, Bergaña fez descobertas inesperadas. “No sul do Tejo, não encontrei nenhuma empresa industrial com o perfil que procuro. Estão todas no norte. Em Aveiro, por exemplo, vi empresas fascinantes — com muito músculo, sobretudo no setor do mobiliário.” Estas empresas, de média dimensão, poderão funcionar como ponto de partida para uma estratégia de roll-up, ou seja, adquirir outras estruturas complementares para escalar o negócio.

Foto de Freepik

A importância da rede de contactos

Bergaña conta também com a sua rede de antigos colegas e parceiros para identificar oportunidades. “Muitas vezes são antigos CFOs ou CEOs que levantam a mão e dizem: ‘conheço uma empresa com um problema de sucessão’. Não me interessa se é boa ou má, porque esse é o meu trabalho: diagnosticar.” A sua experiência como gestor de investimentos torna-o particularmente eficaz neste processo de avaliação.

Com um horizonte de dois anos para identificar a empresa certa — estando atualmente no nono mês de procura —, o fundador da Audaz Capital está convicto de que a oportunidade certa surgirá. E quando isso acontecer, será o início de uma nova etapa para uma empresa que, de outra forma, poderia simplesmente desaparecer.

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