“É preciso Saber Travar para Crescer”

Thiago Martins Machado, da Ventoá, explica por que o investimento sustentável é o novo código de sucesso das startups.

Na foto: Thiago Martins Machado, partner da Ventoá

Thiago Martins Machado, partner da Ventoá, defende que o maior erro dos fundadores é crescer demasiado depressa. Em conversa com Bruno Perin para a Revista do Empreendedor, Thiago partilha as lições que aprendeu como empreendedor e investidor no ecossistema global de inovação.

Thiago Martins Machado conhece os dois lados da mesa. Foi empreendedor antes de se tornar investidor e aprendeu que o “dinheiro inteligente” não é o que acelera o crescimento, mas o que o orienta. “Às vezes é tanta oportunidade que a empresa se perde e pode ruir”, afirma. É essa visão pragmática — de que travar a tempo pode ser tão estratégico como acelerar — que hoje guia o seu trabalho como parceiro na Ventoá, gestora com mais de 300 milhões de euros em ativos sob gestão e presença em mais de uma dezena de empresas.

O instinto que amadureceu com o mercado

Entre 2010 e 2022, o capital de risco viveu uma fase de abundância e de apostas audaciosas. “Naquela altura, o mercado estava mais disposto a correr riscos e investia em gente mesmo com pouca experiência”, recorda Thiago. Hoje, o cenário mudou. “O principal passou a ser a experiência concreta.” A maturação do setor trouxe uma nova métrica: o histórico de execução. Ser autodidata ou um vendedor nato continua a contar, mas o que pesa mais é ter vivido, de dentro, a experiência de fazer uma empresa crescer. “É isso que separa as apostas promissoras das mais arriscadas”, sublinha.

Na foto: Thiago Martins Machado, partner da Ventoá

As novas universidades do empreendedorismo

Thiago observa um fenómeno recorrente: os grandes “unicórnios” estão a formar uma nova geração de fundadores. “Veja-se o caso do Nubank ou da Rappi — pessoas que viveram essa jornada criaram depois negócios que também singraram.” A vivência prática da escala é, segundo ele, uma escola impossível de replicar. “A indicação também é um validador muito forte”, acrescenta. Empresas que passaram por hipercrescimento tornam-se verdadeiras academias de execução. No Brasil, e também na Europa, ex-colaboradores destas organizações têm vindo a fundar novas empresas com curvas de aprendizagem muito mais rápidas.

Na foto: Thiago Martins Machado, partner da Ventoá

O valor invisível do “smart money”

Para Thiago, a diferença entre um investidor comum e um verdadeiro parceiro está na fase em que atua e no tipo de suporte que oferece. “A maioria das empresas precisa de apoio na escalada — entender o ICP, os canais, as formas de crescer. Mais tarde entram temas como a governança e as finanças.” É aí que o investidor experiente faz a diferença. Na Ventoá, explica, o papel é o de parceiro ativo, com apoio estratégico em áreas como Finanças Corporativas, Go-to-Market, Crescimento, M&A e CFO as a Service. “O sucesso pode destruir empresas se não for bem gerido. É preciso manter o controlo para não desmontar a máquina.”

Confiança: o verdadeiro ativo de uma parceria

Quando questionado sobre o que mais pesa na relação entre investidores e fundadores, Thiago é categórico: “A confiança é a base de tudo. Quanto mais cedo o investidor souber dos problemas, mais pode ajudar.” Ocultar dificuldades é, para ele, um erro fatal. “Mesmo que o investidor não consiga resolver, pode ajudar a procurar a solução. O ego é o maior inimigo de qualquer empresa em crescimento.” A humildade, insiste, é o que separa líderes que aprendem dos que ficam para trás.

Na foto: Thiago Martins Machado, partner da Ventoá

Crescer com consciência

O capital, por si só, raramente salva uma empresa. “O que faz diferença é a mentoria de quem já viu o filme antes”, diz. Thiago cita casos como a Airbnb, Uber e Amazon, que quase faliram antes de se tornarem gigantes. “O que as salvou não foi o dinheiro, mas a capacidade de adaptar-se com orientação.” No Brasil, exemplos como a Stone, PagSeguro e Magazine Luiza reforçam a tese: o crescimento sustentável é uma decisão estratégica, não uma consequência do investimento.

No fim da conversa, Thiago lança a provocação que, segundo ele, deveria inquietar qualquer fundador: “A sua empresa está a crescer para se tornar sustentável ou apenas para impressionar a próxima ronda de investimento?

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