A economia da partilha está a transformar a forma como consumimos, trabalhamos e empreendemos. Este modelo, centrado na partilha temporária de bens e serviços entre pares, tem crescido exponencialmente nas últimas duas décadas, impulsionado por plataformas digitais como a Airbnb, Uber ou OLIO. Mais do que uma tendência tecnológica, trata-se de uma mudança cultural, onde o acesso é valorizado acima da posse.
Em Portugal, esta realidade tem vindo a consolidar-se, sobretudo nas grandes cidades, com impacto significativo em sectores como o alojamento turístico e a mobilidade urbana. Mas o fenómeno não se esgota aí. Plataformas como a Glovo, TaskRabbit ou até redes de troca local começam a ganhar expressão, abrindo novas oportunidades para microempreendedores e trabalhadores independentes.
Segundo Rachel Botsman, uma das autoras de referência nesta área, a economia da partilha representa uma “revolução da confiança”, baseada na reputação digital entre desconhecidos. Arun Sundararajan vai mais longe, sugerindo que estamos perante uma “economia sob procura”, onde a distinção entre produtor e consumidor se dilui e o trabalho se torna mais atomizado.
Esta flexibilidade é particularmente atrativa para empreendedores em início de carreira ou para quem procura rendimento complementar. No entanto, também levanta questões estruturais: ausência de proteção laboral, erosão de direitos adquiridos e concorrência desleal em relação a operadores tradicionais. A nível nacional, o quadro legal ainda procura acompanhar a inovação: o licenciamento de alojamento local e a regulamentação das plataformas de mobilidade são exemplos paradigmáticos dessa tensão.
Para os empreendedores portugueses, a economia da partilha oferece um terreno fértil, mas exige consciência crítica e adaptação contínua. Com o apoio da tecnologia, da regulação inteligente e de modelos de negócio mais sustentáveis e cooperativos, este poderá ser um dos motores da próxima geração de iniciativas empresariais.