A energia renovável já não é apenas uma opção sustentável — é, cada vez mais, a mais acessível. Segundo o novo relatório da IRENA (Renewable Power Generation Costs in 2024), 91% dos projetos de energia renovável comissionados no último ano apresentaram custos inferiores a qualquer nova alternativa baseada em combustíveis fósseis. As energias solar e eólica lideram esta transformação económica, reforçada por inovação tecnológica, ganhos de escala e cadeias de abastecimento competitivas.
Custo reduzido, impacto global
Em 2024, a energia eólica terrestre alcançou um custo médio de apenas 0,034 dólares por kWh, sendo a fonte mais barata de nova eletricidade renovável. A energia solar fotovoltaica seguiu de perto, com 0,043 dólares por kWh. Esta dinâmica evitou cerca de 57 mil milhões de dólares em custos com combustíveis fósseis — um contributo significativo para a segurança energética global e para a independência face a mercados voláteis.
Segundo Francesco La Camera, Diretor-Geral da IRENA, “a competitividade de custo das energias renováveis é hoje uma realidade”. Quando somados todos os projetos operacionais, os custos evitados em combustíveis fósseis no último ano poderão ter atingido os 467 mil milhões de dólares.
Integração, rede e financiamento: os novos desafios
Apesar da competitividade, a transição energética enfrenta desafios estruturais. Em mercados como Europa e América do Norte, custos elevados de licenciamento, limites na capacidade da rede e preços mais altos para garantir estabilidade do sistema estão a travar novos projetos. Já nos mercados emergentes, como África e América do Sul, os obstáculos são outros: acesso limitado a financiamento e perceções de risco que elevam os custos de capital.
A diferença é clara. Enquanto na Europa o custo de capital médio para projetos eólicos foi de 3,8%, em África esse valor subiu para 12%. Mesmo com custos operacionais semelhantes, os projetos africanos acabam por ser significativamente mais caros devido ao peso do financiamento.

Modernizar a rede é condição essencial
Os gargalos na integração renovável estão a tornar-se um dos principais entraves à expansão. Em muitos países, a lentidão na emissão de licenças e na conexão à rede impede que a nova capacidade instalada entre em operação. A IRENA alerta que a modernização e a expansão das infraestruturas elétricas são urgentes, especialmente em países do G20 e economias em desenvolvimento, onde o potencial de crescimento é elevado.
Armazenamento e digitalização entram em cena
Os avanços não se limitam à geração. O custo dos sistemas de armazenamento de energia por bateria caiu 93% desde 2010, atingindo os 192 dólares por kWh em 2024. Estas tecnologias, em conjunto com soluções híbridas e ferramentas digitais baseadas em inteligência artificial, tornam-se vitais para integrar fontes variáveis como o sol e o vento.
Contudo, a infraestrutura digital e a flexibilidade do sistema continuam a ser desafios críticos. Sem redes preparadas e plataformas tecnológicas adequadas, os ganhos obtidos na geração podem ser desperdiçados.

Uma transição irreversível, mas frágil
Para António Guterres, secretário-geral da ONU, “as energias renováveis estão a crescer, a era do combustível fóssil está a desmoronar”, mas é preciso eliminar barreiras e garantir investimento. A IRENA reforça esse alerta: sem políticas claras, cooperação internacional e financiamento acessível, o ritmo da transição pode abrandar — com impacto direto nos objetivos climáticos e sociais.
Os projetos de energia renovável provaram ser mais baratos, viáveis e escaláveis. Mas transformar esta vantagem económica numa mudança estrutural global requer muito mais do que preços competitivos. Exige visão política, ação coordenada e um compromisso firme com o futuro energético do planeta.