Escassez de mão-de-obra faz subir salários na hotelaria portuguesa

Salários na hotelaria sobem 6,9%, mas escassez de mão-de-obra e instabilidade contratual continuam a limitar o setor.

Imagem de Drazen Zigic no Freepik

Com a aproximação da época alta do turismo, o setor da hotelaria volta a estar no centro das atenções. A mais recente análise da Randstad Research revela que, apesar do crescimento da atividade e do esforço para atrair talento, a hotelaria continua a enfrentar desafios estruturais profundos. A subida dos salários, embora expressiva, não chega para resolver a escassez de mão-de-obra nem a instabilidade que marca o setor.

Em dezembro de 2024, a remuneração média na hotelaria atingiu os 1.198 euros, um crescimento anual de 6,9% e mensal de 7,4%. Estes números refletem o esforço dos empregadores para atrair profissionais num mercado altamente competitivo, marcado por forte sazonalidade e pressão habitacional nas zonas turísticas. No entanto, as disparidades salariais continuam a ser acentuadas entre funções e tipos de estabelecimento.

Isabel Roseiro, Diretora de Marketing da Randstad, alerta: “A valorização salarial é um passo, mas não resolve por si só os problemas estruturais. A instabilidade contratual e a dificuldade de acesso à habitação continuam a limitar a capacidade de retenção de talento.”

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Restauração domina o emprego, mas alojamento lidera crescimento

O setor empregava, no primeiro trimestre de 2025, 316,7 mil pessoas, cerca de 6,1% do total do emprego nacional. A restauração concentra a maioria dos postos de trabalho (238,4 mil), com um crescimento robusto de 8% no último trimestre de 2024. Já o alojamento — apesar do seu crescimento contínuo desde 2014 — regista uma quebra de 4,8%, mostrando maior sensibilidade às variações do turismo.

Curiosamente, apesar da dinâmica de crescimento, o número de empresas de restauração continua a ser superior ao de alojamento, evidenciando a dimensão da atividade ligada à alimentação fora de casa.

Desemprego sazonal e concentração regional

Em fevereiro de 2025, o setor representava 12,4% do total de desempregados registados nos centros de emprego — mais de 38 mil pessoas. Apesar de uma descida face ao mês anterior, este valor representa quase 10% de aumento em relação ao mesmo mês de 2024, revelando a rotatividade e fragilidade laboral.

O Algarve concentra metade do desemprego regional na hotelaria, reflexo da dependência da economia local face ao turismo sazonal. Também nas regiões autónomas o peso é relevante: 17% na Madeira e 15,2% nos Açores.

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Perfil do setor: feminino, qualificado e vulnerável

A estrutura do emprego revela uma maioria de profissionais qualificados (38,9%) e semiqualificados (24,0%), refletindo uma exigência crescente de especialização. O setor é também marcadamente feminino: 58% dos trabalhadores são mulheres, contrastando com a paridade geral do mercado de trabalho português.

Apesar do crescimento e do esforço salarial, os dados demonstram que a sustentabilidade da hotelaria passa por estratégias mais estruturais e regionais. Sem soluções integradas para questões como a habitação, sazonalidade e estabilidade contratual, a escassez de talento continuará a pressionar o setor — mesmo num contexto de forte procura turística.

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