O Espaço deixou de ser apenas um território de exploração científica para se tornar um eixo estratégico das políticas de defesa. Esta foi uma das principais conclusões do Space Defence Tech Meet Up, evento organizado pela Critical Software, em parceria com a SAAB e o Instituto Superior Técnico, que reuniu peritos nacionais e internacionais para debater o futuro das capacidades espaciais no contexto da segurança e soberania europeias.
Entre os oradores estiveram Christer Fuglesang, astronauta da ESA e catalisador de inovação da SAAB; o coronel Pedro Costa, da Força Aérea Portuguesa; Diogo Amorim, diretor de desenvolvimento de negócio da Critical Software; e Joana Mendonça, professora associada no Departamento de Engenharia e Gestão do Instituto Superior Técnico.
O evento procurou refletir sobre a transição do espaço de domínio científico para uma área estratégica ligada à segurança nacional, com foco nas tecnologias facilitadoras e nas capacidades soberanas que podem garantir autonomia e vantagem competitiva à Europa.
O coronel Pedro Costa salientou a importância do chamado dual use, defendendo uma abordagem equilibrada entre aplicações civis e militares. Apontou ainda a posição geoestratégica de Portugal como trunfo, referindo o centro espacial de Santa Maria, nos Açores, a baixa interferência radioelétrica e a reduzida poluição luminosa como condições ideais para o desenvolvimento de capacidades terrestres de suporte ao setor espacial.
Joana Mendonça, por sua vez, destacou que o desafio maior não é criar soluções, mas sim compreender os problemas de base. “Essa é a base da formação de engenheiros”, afirmou. A docente alertou ainda para a forte dependência europeia no domínio dos chips, lembrando que, embora a tecnologia de produção das máquinas seja europeia, a fabricação dos semicondutores está praticamente concentrada fora da Europa.
Já Christer Fuglesang lamentou o afastamento europeu da atual corrida espacial. Enquanto Estados Unidos, China e Rússia realizaram dezenas de lançamentos no último ano, a Europa somou apenas dois lançamentos bem-sucedidos, menos do que a Índia, Japão ou Irão. Numa nota mais pessoal, partilhou ainda a experiência de ver o planeta do espaço: “Lá de cima não vemos fronteiras.”
O encontro serviu ainda para reforçar a relevância de uma maior articulação entre universidades, indústria e forças armadas no desenvolvimento de um ecossistema espacial europeu mais autónomo, com Portugal a posicionar-se como um player emergente neste novo cenário.