1 – Execução da inteligência artificial nas empresas exige novos perfis híbridos

A execução da inteligência artificial nas empresas tornou-se o principal desafio, exigindo novos perfis híbridos entre tecnologia e negócio.

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Este artigo integra uma série de análise dedicada à execução da inteligência artificial na Europa. Ao longo de vários textos, vamos explorar os desafios da adoção da IA nas empresas, os casos onde a tecnologia gera valor real, os limites físicos da sua aplicação, a leitura estrutural do ecossistema europeu e o papel determinante da infraestrutura que sustenta a inovação. O objetivo é oferecer uma perspetiva informada e duradoura sobre o futuro da inteligência artificial enquanto fator económico, tecnológico e estratégico.

A adoção da inteligência artificial nas empresas europeias entrou numa fase decisiva. Depois de anos de investimento em pilotos, provas de conceito e experimentação tecnológica, o principal obstáculo deixou de ser o acesso à tecnologia e passou a ser a sua execução no terreno. É neste contexto que começa a emergir um novo tipo de perfil profissional, híbrido entre engenharia e negócio, criado para responder a um problema cada vez mais evidente: a dificuldade das organizações em transformar IA em valor real.

Quando a tecnologia avança mais depressa do que a organização

Apesar da maturidade crescente dos modelos de linguagem, dos sistemas de automação e das plataformas de dados, muitas empresas continuam a falhar na integração da IA nos seus processos quotidianos. O problema raramente reside na qualidade da tecnologia. Reside, sobretudo, na incapacidade de adaptar fluxos de trabalho, decisões e culturas organizacionais a ferramentas que exigem novas formas de pensar e operar.

Este desfasamento explica por que razão tantos projetos de IA ficam presos numa fase experimental. Sem uma ligação clara entre as equipas técnicas e as áreas de negócio, a tecnologia permanece periférica, incapaz de responder a necessidades concretas ou de gerar ganhos de produtividade sustentáveis.

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O papel crescente dos perfis orientados para a execução

Face a este bloqueio, começa a ganhar relevância um tipo de profissional cuja função central não é apenas desenvolver tecnologia, mas implementá-la em contexto real. Trata-se de engenheiros com forte compreensão do negócio, capazes de trabalhar diretamente com clientes internos ou externos, identificar problemas operacionais e adaptar soluções de IA de forma pragmática.

Este movimento sinaliza uma mudança importante: a execução da inteligência artificial nas empresas está a ser reconhecida como um desafio organizacional e humano, não apenas tecnológico. Ao aproximar desenvolvimento e operação, estes perfis funcionam como tradutores entre o potencial da IA e as limitações reais das organizações.

Da promessa de eficiência à realidade operacional

Durante a fase inicial de adoção da IA, muitas empresas foram seduzidas por narrativas de eficiência imediata e escalabilidade automática. A experiência recente mostrou, porém, que a introdução de sistemas inteligentes tende a expor fragilidades existentes, como processos mal definidos, dados de baixa qualidade ou estruturas de decisão pouco claras.

Neste contexto, a execução eficaz da IA exige intervenção contínua, ajustamento fino e compreensão profunda do ambiente onde a tecnologia é aplicada. É precisamente aqui que os perfis híbridos ganham relevância, ao permitir que a tecnologia seja moldada às especificidades de cada organização, em vez de forçar a organização a adaptar-se a soluções genéricas.

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Implicações para liderança, talento e estratégia

A emergência destes novos perfis tem implicações diretas para a gestão de talento e para a liderança empresarial. Em vez de concentrar esforços exclusivamente na contratação de especialistas altamente técnicos, as empresas começam a valorizar competências transversais, como comunicação, compreensão do negócio e capacidade de operar em ambientes ambíguos.

Do ponto de vista estratégico, esta evolução sugere que a vantagem competitiva na IA não dependerá apenas do acesso a modelos avançados ou infraestruturas de computação, mas da capacidade de integrar tecnologia na tomada de decisão diária. A execução passa a ser o verdadeiro diferenciador.

A maturidade da IA mede-se no terreno

À medida que o discurso sobre inteligência artificial se torna mais sóbrio, a atenção desloca-se da inovação abstrata para a aplicação concreta. A execução da inteligência artificial nas empresas transforma-se, assim, num teste de maturidade organizacional. As organizações que conseguirem alinhar tecnologia, pessoas e processos estarão melhor posicionadas para extrair valor duradouro da IA.

Mais do que uma tendência de curto prazo, o surgimento de perfis orientados para a execução reflete uma mudança estrutural na forma como a tecnologia é integrada no tecido empresarial europeu. A fase da experimentação deu lugar à fase da responsabilidade: fazer a IA funcionar, onde realmente importa.

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