“Toda a gente quer IA, mas pouca gente controla”, alerta Tiago Lemos. O CEO da Moov2 falou com Bruno Perin para o Empreendedor sobre como a falta de governança está a sabotar o verdadeiro potencial da inteligência artificial dentro das empresas.
Tiago Lemos observa de perto o modo como os executivos tomam decisões em ambientes cada vez mais moldados pela inteligência artificial. À frente da Moov2 — empresa de tecnologia e consultoria que ajuda as médias e grandes organizações a resolver dilemas empresariais com IA, dados e desenvolvimento de aplicações — o gestor tem acompanhado mais de 500 companhias em processos de transformação digital. A sua convicção é clara: o desafio já não é adotar IA, mas governá-la.
Fundador da Ventiur Aceleradora e ex-presidente do Conselho da SULGAS, Lemos alia experiência de gestão à visão de quem entende a tecnologia como motor estratégico. “A democratização da IA está a gerar caos organizacional. As áreas de negócio compram modelos de linguagem e implementam-nos sem controlo. Isso é um risco invisível e caro”, adverte.

Decisões com bússola de dados
“Uso IA, dados e tecnologia para resolver dilemas organizacionais”, explica. O método da Moov2 baseia-se em mapeamentos detalhados de cenários e concorrentes, com grande parte da análise automatizada. Inicialmente concebido para clientes, o sistema foi aplicado internamente e transformou a forma como a empresa decide.
Para Lemos, a diferença entre líderes que prosperam e os que se perdem é a capacidade de transformar intuição em processo estruturado. “Dizer não é mais fácil quando se tem dados em tempo real sobre o mercado”, resume.
O erro rápido e económico
Outro princípio central da sua liderança é o de testar constantemente. “O erro tem de ser breve, para errar rapidamente e de forma económica”, afirma. A filosofia “fail fast, fail cheap” que marcou as startups é, segundo Lemos, um imperativo para empresas de qualquer dimensão que pretendam manter-se competitivas.
Validar ideias de forma ágil evita desperdícios e acelera o processo de aprendizagem. “Antes de lançar um curso, testei a procura. Essa capacidade de testar rapidamente faz toda a diferença”, explica.

Governança de IA: o elo perdido
O maior obstáculo, contudo, está dentro das próprias organizações. “Toda a gente quer IA e pouca gente controla”, insiste. A ausência de uma estrutura de governança sólida cria silos tecnológicos e impede o aproveitamento real do potencial da IA. Sem dados organizados e processos claros, a tecnologia torna-se ineficaz.
O cenário que descreve é paradoxal: empresas investem em IA para ganhar eficiência, mas acabam por amplificar a desordem. “Estão a usufruir menos do que poderiam, porque os dados ainda não estão adequados”, reforça.

Da ferramenta ao sistema nervoso da empresa
Tiago Lemos acredita que o caminho está em seguir o exemplo de gigantes como Microsoft e Google, que integram IA de forma sistémica — como o verdadeiro sistema nervoso da organização. Na Moov2, a abordagem conjuga governança, dados organizados e processos de validação contínua.
Inspirado em frameworks como OKR, automatizou a inteligência competitiva, transformando-a num radar em tempo real para decisões de gestão. A metáfora que utiliza é elucidativa: “Implementar IA sem reorganizar dados e processos é como tentar conduzir um Fórmula 1 numa estrada de terra batida.”
A sua provocação final é direta: “A vossa empresa está a usar IA para tomar decisões melhores ou apenas para automatizar más decisões mais rapidamente?”