Um novo estudo global da Colt Technology Services revela que a adoção de IA nas telecomunicações pode acelerar eficiência e inclusão, mas também aprofundar desigualdades caso as empresas não integrem os trabalhadores desde o início da transformação.
A Colt Technology Services divulgou o estudo Concern to Confidence: How Telecoms Businesses Can Embrace AI Without Leaving People Behind, que inquiriu 1.005 trabalhadores do setor das telecomunicações em nove países. Segundo o relatório, existe uma combinação de otimismo e preocupação: os profissionais reconhecem os benefícios operacionais da IA, mas receiam que o ritmo de adoção esteja a ultrapassar a capacidade de adaptação das equipas.
A análise confirma esta ambivalência. O documento destaca que 99% dos trabalhadores acreditam que parte das suas tarefas poderá ser automatizada e que 72% consideram possível a automatização de até metade das funções diárias. Esta perceção contribui para um sentimento frágil de segurança laboral, sendo que apenas 23% se dizem muito confiantes no futuro do seu emprego.
O receio é explícito nas respostas recolhidas. Um dos participantes afirmou: “parte-se do princípio de que todos estão prontos para se adaptar à IA, mas a maioria está simplesmente sobrecarregada e prefere não dizer nada”. Outro acrescentou: “as decisões são tomadas em salas onde ninguém reflete sobre equidade”.
AI deployment deve acontecer com as pessoas — não às pessoas.”

IA nas telecomunicações: risco real de aprofundar desigualdades de género
O estudo mostra que a adoção de IA nas telecomunicações poderá ter impacto positivo na diversidade, mas apenas se houver governação robusta e participação ativa dos trabalhadores. Apesar de 63% dos inquiridos acreditarem que a IA ajudará a acelerar as metas de igualdade de género, o risco de agravamento das desigualdades permanece elevado.
Os dados indicam que as áreas mais ameaçadas pela automatização como marketing, atendimento ao cliente, funções administrativas e financeiras, são dominadas por mulheres. Segundo o relatório, 55% dos trabalhadores temem ser substituídos pela IA, chegando aos 60% nos departamentos de marketing e finanças.
O alerta surge de várias vozes citadas no estudo. Uma especialista em diversidade reforça: “Se observarmos as áreas que estão a ser automatizadas em primeiro lugar, percebemos que são geralmente funções exercidas por mulheres”. Outra participante acrescenta: “Se os dados reproduzem preconceitos históricos e o sistema aprende com eles, estaremos a codificar a desigualdade”.
Os autores da pesquisa concluem que a transformação só será equitativa se envolver equipas diversas desde a conceção das soluções, prevenindo enviesamentos nos modelos e impactos assimétricos nas equipas.
As decisões sobre a adoção da IA continuam a ser tomadas sem refletir sobre equidade

Do receio à confiança: como o apoio interno muda a perceção dos trabalhadores
As conclusões do relatório mostram que os trabalhadores que recebem apoio estruturado como formação, comunicação clara e participação na definição das políticas de IA, revelam muito maior confiança no futuro.
O estudo identifica uma correlação direta:
- 41% dos trabalhadores confiantes afirmam que as suas empresas já integraram IA de forma moderada ou profunda.
- Entre os que se sentem inseguros, apenas 29% relatam níveis semelhantes de integração tecnológica.
- Isto sugere que as organizações mais maduras na adoção de IA são também as que melhor apoiam os trabalhadores, reduzindo receios e reforçando a adesão à mudança.
Segundo Frank Miller, Chief AI and Platforms Officer, na Colt explica que: “Ao envolver os colaboradores desde as fases iniciais, manter comunicação aberta e promover uma cultura de aprendizagem contínua, criamos uma força de trabalho diversificada, talentosa e confiante, preparada para o futuro”.
A falta de formação obrigatória está a deixar muitos trabalhadores à margem da transformação.

Formação, literacia e participação: os pilares de uma adoção sustentável
O estudo destaca que a formação é um dos fatores mais determinantes na forma como os trabalhadores percecionam o impacto da IA. Ainda assim, menos de metade considera que a empresa está a investir suficientemente neste domínio.
Entre os trabalhadores que se sentem seguros na função, as três principais razões está o acesso a cursos online (54%), a formação presencial (47%), e o acesso a certificações (42%). Já entre os que sentem insegurança laboral, estes números caem significativamente — um indício de que a falta de formação intensifica receios e fragiliza a capacidade de adaptação.
O estudo conclui que a formação obrigatória — e não apenas voluntária — é decisiva. Os trabalhadores menos confiantes tendem a não se inscrever espontaneamente nos programas de upskilling, ficando à margem da transformação.

O que está em jogo: o setor das telecomunicações no limiar de um novo paradigma
Com 91% das empresas do setor já a utilizar IA em alguma função, o setor das telecomunicações está entre os mais avançados na transformação digital. Mas esta aceleração coloca desafios de governação, ética e inclusão.
A pesquisa da Colt alerta que, sem políticas robustas de IA responsável, a tecnologia poderá fragmentar ainda mais o mercado de trabalho, excluir grupos historicamente sub-representados, e reforçar desigualdades estruturais dentro das organizações.
A adoção de IA nas telecomunicações só será efetivamente transformadora se equilibrar inovação e responsabilidade. Como sintetiza uma das especialistas entrevistadas: “AI deployment deve acontecer com as pessoas — não às pessoas”.
O relatório aponta cinco prioridades para uma integração de IA verdadeiramente ética e eficaz:
- liderar com transparência e planeamento,
- envolver equipas diversas desde o início,
- investir em literacia e formação transversal,
- monitorizar enviesamentos e impactos,
- e estabelecer governança clara, com responsabilidades partilhadas.
A Colt resume o desafio: uma IA que acelera a inovação sem deixar ninguém para trás. Para isso, será necessário redefinir estratégias de talento, reforçar a comunicação interna e integrar preocupações sociais no centro das decisões tecnológicas.







