“Inovar é voltar a perguntar com intenção”

The ASK Game, criado por Filipa e Nuno Cardoso, transforma o ato de perguntar numa ferramenta de conexão e inovação global.

Na foto: Filipa Cardoso, cofundadora do The ASK Game

Criado pelos irmãos Filipa e Nuno Cardoso, o The ASK Game é um jogo de perguntas bilíngue (PT/EN) que tem vindo a conquistar espaço no mercado nacional e internacional. Mais do que entretenimento, é uma ferramenta para fortalecer relações e criar conversas com significado.

A ideia nasceu em plena pandemia, quando a distância física e emocional impunha novos desafios às relações pessoais. Filipa, com experiência em comunicação, e Nuno, ligado à criatividade e às humanidades, decidiram transformar a necessidade de conexão numa oportunidade empreendedora. O resultado foi um jogo 100% português que rapidamente ganhou destaque em meios como a NIT, o SAPO e a MSN, e entrou nas listas de sugestões da FNAC.

Hoje, o The ASK Game não é apenas um produto de lazer. É uma marca em crescimento, utilizada em contextos familiares, educativos, terapêuticos e empresariais, demonstrando a versatilidade do conceito. A sua expansão internacional sublinha o potencial do projeto e a ambição dos criadores em fazer dele uma referência global na criação de experiências que aproximam pessoas.

“O sucesso do ASK mostra que inovar não é complicar — é voltar a perguntar com intenção.”

Filipa Cardoso, cofundadora do The ASK Game
Foto de The ASK Game

Da Tupperware ao tabuleiro

A semente do projeto surgiu muito antes do confinamento. “Conheci o conceito de conversation starters nos Estados Unidos e fiquei fascinada com a forma como um simples cartão colocado em cada lugar à mesa podia gerar conversas novas e autênticas”, recorda Filipa Cardoso.

A empreendedora começou a recolher perguntas de diferentes fontes — de coaches a professores espirituais — e a criar as suas próprias. Primeiro, usou-as em sessões de coaching e, depois, em contextos familiares. “Durante umas férias em 2020, tirei uma caixa de Tupperware cheia de cartões impressos e o ambiente mudou completamente: o desacordo deu lugar à curiosidade e à descoberta. Houve gargalhadas, lágrimas e partilhas de sonhos que nunca tinham sido ditas.”

Dessa experiência nasceu a missão que une os irmãos: ajudar as pessoas a terem conversas mais profundas e significativas. “Quando realmente conhecemos o outro, temos a oportunidade de o amar melhor”, sublinha Filipa.

Com uma base inicial de mais de 700 perguntas, criaram um jogo com 130 selecionadas, distribuídas por três níveis de profundidade. “Desde perguntas leves que quebram o gelo até reflexões sobre valores e espiritualidade, o ASK foi desenvolvido com uma mentalidade de design thinking, testando protótipos com casais, famílias, terapeutas e coaches”, explica.

Na foto: Nuno Cardoso, cofundador do The ASK Game

Crescimento sustentado e ambição global

O The ASK Game rapidamente ultrapassou fronteiras. “Entrámos em retalhistas de referência como a Fnac e o El Corte Inglés, o que deu ao ASK credibilidade e visibilidade. Paralelamente, fortalecemos a presença digital com vendas diretas e conteúdos nas redes sociais”, explica Nuno Cardoso.

A estratégia foi reforçada por uma aposta em comunicação e relações públicas. “Trabalhar com uma agência de PR permitiu-nos contar a história da marca de forma consistente e emocionalmente relevante em diferentes mercados.”

A dupla sublinha também a importância da adaptação cultural. “Criámos edições em inglês, português e espanhol, e testamos continuamente a linguagem e o design junto de utilizadores reais. Queremos que, ao ver a caixa numa prateleira, qualquer pessoa perceba de imediato o propósito do jogo.”

Um jogo, múltiplos contextos

O que começou como uma ferramenta de ligação familiar transformou-se num produto de grande versatilidade. “A força do ASK está precisamente na sua adaptabilidade. Nunca o desenhámos para um nicho específico”, afirma Filipa.

O jogo é hoje usado em jantares de família, escolas, sessões de terapia e eventos corporativos. “As perguntas não conduzem — desbloqueiam diálogo genuíno. O mesmo baralho gera gargalhadas num grupo e introspeção noutro. À medida que as pessoas e as relações evoluem, também as respostas mudam.”

Essa flexibilidade tem impacto direto no modelo de negócio. “Conseguimos servir diferentes públicos através de múltiplas portas de entrada — educadores, terapeutas, empresas e consumidores finais. Essa dimensão abriu-nos espaço para colaborar com eventos como o TEDx Porto, onde, durante três anos consecutivos, cada participante recebeu uma carta do ASK como convite à reflexão.”

Foto de The ASK Game

Mais recentemente, a marca lançou o ASK Journal, um diário que complementa o jogo e aprofunda o autoconhecimento. “O nosso objetivo é criar um ecossistema global de conexão, com ferramentas digitais e experiências sociais que tragam o diálogo e a autenticidade de volta ao centro da vida moderna.”

“Autenticidade é a vantagem competitiva mais poderosa que um empreendedor pode ter.”

Nuno Cardoso, cofundador do The ASK Game

Lições de uma jornada empreendedora

Para os irmãos Cardoso, criar um negócio de impacto é um processo de autodescoberta tanto quanto de execução. “Antes de tudo, é essencial clarificar a visão e os valores”, sublinha Nuno. “O porquê é o combustível que mantém o projeto vivo quando surgem os desafios.”

A segunda lição é simples: agir cedo e melhorar constantemente. “Não esperes pela perfeição — começa antes de te sentires pronto. Testa ideias com pessoas reais e ouve o feedback. Reescrevemos as perguntas dezenas de vezes antes de chegar à versão final do ASK”, recorda Filipa.

Por fim, defendem a autenticidade como vantagem competitiva. “Nunca tentámos seguir tendências ou agradar a todos. Mantivemo-nos fiéis ao propósito do jogo — e isso atraiu pessoas de culturas muito diferentes que se identificam com a mensagem.”

O caminho, admitem, é exigente. “Criar um negócio do zero significa desempenhar todos os papéis — criativo, logístico, financeiro. Tudo demora o dobro do que imaginamos. O segredo está em aparecer todos os dias, ajustar, aprender e manter viva a visão.”

Foto de The ASK Game

Conectar é o novo escalar

O sucesso do The ASK Game mostra que inovação nem sempre significa tecnologia — às vezes nasce de algo tão simples quanto uma pergunta. “No fundo, o que fazemos é criar espaço para conversas que importam”, resume Filipa.

Entre o propósito e o negócio, o ASK tornou-se um símbolo de um novo tipo de empreendedorismo português — aquele que alia criatividade, empatia e impacto humano à ambição global.

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