Inovar para todos: O risco da concentração tecnológica

A OCDE 2025 defende políticas que ampliem a difusão da inovação para reduzir desigualdades e gerar impacto social.

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A inovação é, por natureza, desigual. As atividades de investigação e desenvolvimento tendem a concentrar-se em setores, empresas e regiões mais avançadas, deixando vastas áreas da economia e da sociedade à margem dos seus benefícios. A OCDE, no relatório Science, technologie et innovation : Perspectives de l’OCDE 2025, alerta para este risco crescente e propõe uma estratégia clara: fazer da difusão da inovação uma prioridade política.

Segundo a organização, quando o conhecimento e as tecnologias se concentram em poucos centros de excelência, o resultado é um crescimento assimétrico — com ilhas de produtividade num mar de estagnação. A solução passa por políticas que promovam a circulação de ideias, competências e tecnologias entre todos os atores do sistema.

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Expandir o impacto da inovação

A OCDE defende que as políticas de ciência e tecnologia devem ir além da criação de novas tecnologias e concentrar-se também na sua disseminação. Isso implica investir em formação avançada, redes de colaboração e infraestruturas de apoio à adoção tecnológica por pequenas e médias empresas (PME).

Ao mesmo tempo, recomenda-se que as políticas industriais incluam medidas específicas para ampliar o acesso à inovação em regiões periféricas e setores menos intensivos em conhecimento. O objetivo é criar um efeito multiplicador: quanto mais ampla for a base de utilizadores e inovadores, maior o retorno económico e social do investimento público em I&D.

Democratizar a inovação

A OCDE sublinha que inovar para todos não significa reduzir a ambição científica, mas alargar o alcance dos seus benefícios. A democratização da inovação passa por incluir diferentes tipos de conhecimento — tecnológico, social, tradicional — e promover uma visão mais participativa da transformação digital.

Esta abordagem requer também políticas de inclusão digital, incentivos à literacia tecnológica e mecanismos que aproximem universidades e empresas locais. A difusão da inovação é, neste sentido, um fator de coesão económica e territorial.

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Portugal e a economia do conhecimento partilhado

Portugal tem vindo a fortalecer a sua rede de incubadoras, polos de inovação e programas de apoio à digitalização das PME. No entanto, a OCDE recomenda uma maior integração entre estas iniciativas e as políticas de ciência e ensino superior, de forma a construir um sistema coerente de transferência e difusão tecnológica.

A criação de redes regionais de inovação, a valorização da investigação aplicada e o reforço das parcerias universidade-indústria são caminhos para tornar o país mais competitivo — e mais equitativo — na economia do conhecimento.

Difundir a inovação é, em última análise, difundir oportunidade. E esse é o passo essencial para que o progresso tecnológico se traduza em prosperidade coletiva.

Referência:

OCDE (2025), Science, technologie et innovation : Perspectives de l’OCDE 2025 : Conduire le changement dans un monde en mutation, Éditions OCDE, Paris, https://doi.org/10.1787/a7207a31-fr.

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