No âmbito das comemorações do Dia Mundial dos Oceanos, que se assinala a 8 de junho, o MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente – alerta para os impactos preocupantes da atividade humana nos ecossistemas marinhos, mesmo nas regiões mais remotas do planeta. Três estudos recentes liderados pelo investigador Bernardo Duarte, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, revelam a presença de contaminantes emergentes e a proliferação de genes de resistência microbiana tanto na costa portuguesa como na Antártida.
Na Ilha Deception, na Antártida, foi detetada a presença de 70 compostos contaminantes em células de fitoplâncton, incluindo biocidas, poluentes orgânicos persistentes, produtos farmacêuticos e até drogas ilícitas. A origem provável destes poluentes está associada à atividade turística e à presença de bases de investigação, o que, segundo o investigador, “é um sinal claro da necessidade urgente de rever as diretrizes de proteção ambiental para a Antártida”.
Em Portugal, a análise de águas costeiras identificou uma prevalência significativa de genes de resistência a antibióticos e metais. O estudo demonstrou que essa presença está diretamente relacionada com a intensidade da pressão humana nas zonas analisadas. “A pressão humana está a levar ao aumento de bactérias multirresistentes, o que representa um risco significativo para a saúde planetária”, sublinha Bernardo Duarte.
Já o estudo mais recente regressa à Antártida, onde a combinação entre vulcanismo ativo e atividade humana revelou ter um impacto conjunto na diversidade microbiana, favorecendo o surgimento e a disseminação de genes de resistência. Foram identificadas funções associadas à degradação de poluentes, infeções hospitalares e presença de antibióticos, evidenciando a complexidade e gravidade das alterações detetadas.
Segundo o MARE, estas investigações apontam para uma realidade preocupante: mesmo em regiões isoladas, a ação humana é um motor determinante na introdução de contaminantes e no avanço da resistência microbiana. A organização apela a uma ação global coordenada, à revisão de políticas ambientais em zonas sensíveis e à implementação de programas de monitorização contínua.
“Estes resultados são um forte apelo à responsabilidade coletiva na proteção dos nossos oceanos”, afirma a equipa do MARE, defendendo uma atuação mais proativa para mitigar os impactos da atividade humana sobre ecossistemas que sustentam a biodiversidade e a saúde planetária.