O ecossistema europeu de startups tem energia, mas falta-lhe tração

Ecossistema europeu de startups revela energia e cooperação, mas enfrenta fragilidades estruturais que limitam escala e liderança global.

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Ecossistema europeu de startups é uma expressão recorrente em relatórios, conferências e discursos institucionais. A vitalidade aparente é real: há talento, projetos, hubs e financiamento inicial. O problema é que essa energia raramente se converte em escala, impacto global e liderança tecnológica sustentada, como sublinha uma análise recente publicada pelo TechCrunch.

Os indicadores de atividade no ecossistema europeu , como número de startups criadas, rondas seed, programas de aceleração e eventos, não encontram correspondência na emergência de empresas capazes de competir globalmente em setores estratégicos. A Europa “faz muito”, mas consolida pouco. Não por ausência de ideias ou de talento, mas porque os constrangimentos surgem precisamente quando é necessário crescer depressa, assumir risco elevado e tomar decisões difíceis.

Esta distância entre dinamismo inicial e consolidação tornou-se mais evidente à medida que o fosso face aos Estados Unidos e à Ásia se mantém. O ecossistema europeu mostra-se confortável na fase de arranque da inovação, mas hesitante quando a sobrevivência exige foco, concentração de recursos e capacidade de correção rápida.

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Fragilidades estruturais difíceis de contornar

Parte da explicação está na própria arquitetura do modelo europeu. A fragmentação regulatória, a multiplicidade de mercados nacionais e a complexidade administrativa tornam o processo de escala lento e oneroso. A isto soma-se uma cultura empresarial e institucional onde a falha continua a ser penalizada, e onde encerrar um projeto ou reestruturar uma equipa tende a ser mais custoso do que prolongar estratégias pouco eficazes.

O resultado é um ecossistema que privilegia a continuidade sobre a disrupção. O risco é gerido com prudência, mas raramente assumido como instrumento estratégico. Quando falhar é caro, a ambição ajusta-se em baixa.

Europa como plataforma, não como destino final

Este quadro contrasta com um fenómeno menos discutido: a crescente atratividade operacional da Europa. Um estudo da KPMG, divulgado pelo The Times of Israel, mostra que várias empresas tecnológicas israelitas expandiram as suas equipas no continente durante o período de guerra. A escolha não teve como objetivo transformar a Europa no centro da estratégia global dessas empresas, mas assegurar continuidade operacional, acesso a talento qualificado e estabilidade institucional.

O dado é revelador. A Europa funciona bem como plataforma intermédia — segura, previsível e tecnicamente competente —, mas continua a ser raramente escolhida como espaço de decisão estratégica ou de crescimento acelerado. A solidez institucional atrai operações; a falta de tração afasta a liderança.

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Cooperação como virtude e limite

O modelo europeu de inovação assenta fortemente na cooperação transnacional, em consórcios e em parcerias público-privadas. Essa característica explica a elevada densidade de projetos conjuntos e a forte articulação entre países e instituições, como sublinha a análise da Atomico publicada pelo The Recursive.

No entanto, essa mesma lógica cooperativa tende a diluir responsabilidade e a atrasar decisões críticas. A ausência de escolhas claras e de vencedores assumidos reduz a capacidade de gerar líderes globais num contexto internacional cada vez mais competitivo.

Muito financiamento, pouca velocidade

O enquadramento institucional reforça esta leitura. Programas como o Horizon Europe demonstram que recursos financeiros para a inovação existem e são significativos. Contudo, a inovação orientada por agendas públicas privilegia previsibilidade, conformidade e planeamento, em detrimento de velocidade, autonomia e capacidade de execução empresarial.

Este modelo tem eficácia na investigação e no desenvolvimento tecnológico de base. Revela, porém, limitações evidentes quando o objetivo é escalar empresas num mercado global volátil, onde o tempo e a decisão contam tanto quanto o capital.

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Energia não basta sem estrutura decisória

O ecossistema europeu de startups não sofre de falta de energia. Sofre de excesso de travões no momento em que essa energia deveria transformar-se em tração. As exceções — empresas estrangeiras que utilizam a Europa como base operacional ou os raros casos europeus que conseguem escalar — demonstram que a capacidade existe.

A questão central não é se a Europa consegue inovar. É se está disposta a ajustar o seu modelo para que a inovação deixe de ser apenas um sinal de vitalidade e passe a ser um verdadeiro motor de liderança económica.

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