Políticas científicas em modo de transição

A OCDE 2025 propõe reformas profundas nas políticas científicas para tornar os sistemas de investigação mais ágeis e interdisciplinares.

Foto de Ross Helen Photo em Freepik

A edição 2025 do relatório da OCDE Science, technologie et innovation : Perspectives de l’OCDE 2025 lança um alerta inequívoco: os sistemas científicos nacionais precisam de reformas estruturais urgentes para acompanhar a velocidade da mudança global. Numa era marcada pela convergência tecnológica, pela incerteza geopolítica e pela escassez de recursos, as políticas de ciência e inovação enfrentam a pressão de se reinventarem.

O documento propõe uma transformação profunda da forma como a investigação é planeada, financiada e avaliada. A OCDE defende políticas científicas mais ágeis, interdisciplinares e abertas à sociedade — capazes de responder a desafios complexos como as transições energética e digital, as alterações climáticas ou o envelhecimento populacional.

Foto de DC Studio em Freepik

Do financiamento à flexibilidade

Um dos pontos críticos identificados pela OCDE é a rigidez dos sistemas públicos de investigação. Apesar da crescente exigência por resultados, os mecanismos de financiamento continuam ancorados em modelos tradicionais, pouco adaptáveis a projetos interdisciplinares ou de longa duração.

A organização recomenda a criação de estruturas de apoio e de governação mais flexíveis, capazes de articular universidades, empresas e centros tecnológicos em torno de objetivos comuns. A aposta deve recair na coordenação de políticas e não apenas na sua acumulação. Em paralelo, sugere-se uma revisão dos critérios de avaliação da investigação, valorizando a diversidade de contributos — da transferência de tecnologia à ciência cidadã.

Interdisciplinaridade e carreiras híbridas

As soluções para os grandes desafios contemporâneos raramente cabem dentro de uma única disciplina. Por isso, o relatório da OCDE sublinha a importância de promover a investigação pluridisciplinar e de incentivar carreiras científicas mais dinâmicas e intersetoriais.

A mobilidade entre a academia, a indústria e o setor público deve deixar de ser exceção para se tornar regra. Essa integração, além de fomentar a inovação, contribui para aproximar a ciência das necessidades sociais e económicas. Ao mesmo tempo, o relatório destaca a importância de garantir a autonomia da investigação e de proteger a liberdade científica como base de qualquer sistema robusto.

Foto de Freepik

Portugal e a transição em curso

Em Portugal, o tema não é novo — mas ganha nova urgência. O sistema científico nacional tem dado passos importantes na internacionalização e na articulação entre investigação e inovação. No entanto, a fragmentação institucional e a dependência excessiva de fundos competitivos limitam a previsibilidade necessária para planear a longo prazo.

Seguindo as recomendações da OCDE, será essencial reforçar a governação científica, simplificar procedimentos e criar mecanismos de experimentação de políticas públicas. A transição para um modelo mais flexível e colaborativo não se faz apenas com mais investimento, mas com uma nova cultura de confiança entre Estado, academia e empresas.

A ciência em transição é, no fundo, um espelho do próprio tempo: um tempo que exige agilidade, cooperação e visão de futuro.

Referência:

OCDE (2025), Science, technologie et innovation : Perspectives de l’OCDE 2025 : Conduire le changement dans un monde en mutation, Éditions OCDE, Paris, https://doi.org/10.1787/a7207a31-fr.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor escreva o seu comentário!
Por favor coloque o seu nome aqui

ten − 7 =