Portugal Alcança a Maturidade Empreendedora — O Desafio Agora É Escalar

Portugal entra na fase de consolidação do ecossistema de startups, com desafios em capital, talento e escala global.

Stand da Startup Portugal na Web Summit 2025 (foto de Startup Portugal)

Com mais de 5 mil startups ativas, o país cumpre a meta do PRR e entra na fase de consolidação do ecossistema, mas enfrenta novos desafios em capital, talento e escala global

Portugal atingiu em 2025 um marco histórico: mais de 5.000 startups ativas em todo o território nacional. O relatório Portugal’s Startup Ecosystem 2025: From Growth to Consolidation, desenvolvido pela Startup Portugal em parceria com a Informa D&B, confirma o cumprimento da meta do PRR e assinala o início de uma nova fase: a da consolidação de um ecossistema que já representa 1% do tecido empresarial e 1,5% das exportações nacionais.

Do crescimento à consolidação

Entre 2022 e 2025, o número de startups cresceu a um ritmo médio anual de 11%, passando de 3.713 para 5.091 empresas. O volume de negócios atingiu 2.856 milhões de euros (+9%), e o emprego ultrapassou os 28 mil postos de trabalho (+8%). O salário médio nas startups subiu para 2.200 euros, 81% acima da média nacional, um sinal claro da sua capacidade de atrair talento qualificado.

Na foto: Participantes no South Summit 2022 (Foto de Startup Portugal)

“Entrámos agora numa fase de consolidação, em que o foco deve estar na qualidade, na escala e no impacto”, afirmou Alexandre Santos, presidente da Startup Portugal. A análise confirma esta transição: cerca de 70% das startups foram criadas nos últimos cinco anos e a maioria atua em setores tecnológicos e intensivos em conhecimento, sobretudo nas áreas de TIC e serviços digitais.

A geografia do empreendedorismo português continua altamente concentrada. Lisboa e Porto somam mais de 60% das startups e cerca de 70% do volume de negócios total. Lisboa, com um ecossistema avaliado em 25 mil milhões de dólares, figura entre os dez principais ecossistemas emergentes do mundo segundo o Startup Genome Report 2025. Porto segue em rápido crescimento, destacando-se entre os vinte melhores da Europa em talento e acessibilidade.

na foto Stand da Startup Portugal / Unicorn Factory na Web Summit de Qatar

Talento e capital: os novos limites ao crescimento

Apesar da evolução positiva, o relatório identifica fragilidades estruturais. O ecossistema português depende ainda em excesso de instrumentos públicos e de capital estrangeiro, com um reduzido número de fundos de capital de risco nacionais e poucas saídas relevantes. “É essencial diversificar as fontes de investimento e reforçar a presença de investidores institucionais nacionais”, recomenda o documento.

O talento é outro ponto crítico. Embora Portugal se destaque no World Talent Ranking e mantenha elevada atratividade internacional, o país enfrenta escassez de perfis técnicos e um fluxo contínuo de profissionais qualificados para o estrangeiro. O relatório propõe a revisão dos processos de visto tecnológico e o reforço da ligação entre universidades e startups para acelerar a requalificação digital.

A aprovação da Startup Law em 2023 foi um marco, mas a sua aplicação ainda é percecionada como burocrática e complexa. O relatório defende uma “Startup Law 2.0”, centrada na simplificação e na expansão de regulatory sandboxes em áreas como inteligência artificial, biotecnologia e fintech.

No plano europeu, Portugal mantém uma posição acima da média da Startup Nations Standards, destacando-se em digitalização, stock options e criação de empresas. Contudo, apresenta margem de progressão em diversidade e inovação regulatória. A recente S9+ Lisbon Declaration, promovida pela Startup Portugal, reforça o papel do país como voz ativa na definição da futura Estratégia Europeia para Startups e Scaleups.

Stand da Unicorn Factory na Web Summit 2025 (foto de Empreendedor)

A década da escala

O desafio agora é transformar a quantidade em qualidade. “Portugal tem mais de 5.000 startups — o que falta é fazer nascer mais scaleups e unicórnios”, sintetiza o relatório. Para tal, será necessário consolidar uma base de capital privado mais robusta, atrair talento global e manter um enquadramento político estável que incentive o investimento.

O país chega, assim, à maturidade empreendedora com uma missão clara: tornar-se o principal polo de inovação do Sul da Europa. Como conclui Alexandre Santos, “o futuro não é apenas sustentar o crescimento, é moldar o que vem a seguir — um ecossistema capaz de competir e liderar a próxima vaga de inovação europeia”.

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