Neste artigo, Rita Quaresma explica como gerir as finanças domésticas planeando despesas e otimizando recursos, “com a seriedade de um empreendedor”.
A chegada de um novo ano envolve a habitual lista de resoluções. No topo, quase invariavelmente, encontramos a intenção de “poupar mais” ou “gerir melhor o dinheiro”. No entanto, a verdadeira estabilidade financeira não virá de pequenos cortes domésticos, mas, sim, de uma mudança estrutural na forma como lidamos com os compromissos já assumidos.
Ao longo da minha experiência à frente do projeto CréditoConsolidado.pt, tenho observado um fenómeno comum: muitas famílias gerem o orçamento de forma fragmentada. Temos o crédito habitação num banco, o financiamento do carro noutro, dois cartões de crédito com taxas distintas e, talvez, um pequeno crédito pessoal para uma necessidade pontual. Esta dispersão é o inimigo invisível da poupança.
O problema de ter vários créditos dispersos é, sobretudo, a erosão da liquidez mensal e a carga mental de gerir diferentes prazos e taxas de juro. Por isso, quando olhamos para o orçamento de 2026, a primeira pergunta não deve ser “onde posso cortar?”. Deve ser antes “como posso otimizar o que já pago?”.

A reorganização financeira deve ser vista como uma auditoria. Se uma empresa reestrutura a sua dívida para ganhar fôlego e investir, por que razão as famílias não aplicam a mesma lógica? Consolidar as obrigações para simplificar a gestão e, acima de tudo, reduzir o encargo mensal global é uma solução a ter em conta.
Muitas vezes, a palavra “crédito” é associada a um problema, quando, se bem utilizada, é uma ferramenta. Optar por um crédito consolidado permite que o consumidor aglutine vários empréstimos numa única prestação, com uma única taxa de juro e um único interlocutor.
Na prática, isto traduz-se numa redução que pode chegar aos 60% do valor total das prestações mensais. Para uma família que inicia o ano com o orçamento pressionado pelo aumento do custo de vida, esta “folga” pode ser a margem de manobra necessária para constituir um fundo de emergência ou investir na educação dos filhos.

Para quem deseja entrar no novo ano com uma estrutura financeira sólida, recomendo três passos imediatos:
- Mapeamento de Passivos: listar todos os créditos ativos, as respetivas taxas de juro (TAEG) e o capital em dívida;
- Análise de Mercado: as condições bancárias mudam. O que era um bom negócio há dois anos pode estar hoje desatualizado. Renegociar ou transferir créditos é um direito do consumidor;
- Priorização da Liquidez: em 2026, o “dinheiro vivo” no bolso das famílias será o maior ativo contra a incerteza económica. Reduzir as saídas fixas mensais deve ser a prioridade absoluta.
Gerir as finanças domésticas com a seriedade de um empreendedor é o caminho para a liberdade financeira. Ao reorganizarmos o orçamento através da consolidação e da otimização de encargos, deixamos de viver em modo de sobrevivência para passarmos a um modo de planeamento.
O ano de 2026 não tem de ser aquele em que “esperamos que as taxas baixem”. Pode ser o ano em que tomamos as rédeas e decidimos, proactivamente, simplificar a nossa vida financeira. Até porque estabilidade não é um acaso; é o resultado de decisões inteligentes tomadas no momento certo.







