“Failure is simply the opportunity to begin again, this time more intelligently.” — Henry Ford
Falhar faz parte do percurso de qualquer empreendedor. O desafio está em transformar o insucesso em aprendizagem e força para recomeçar. Neste artigo para o Empreendedor.com, João Rodrigues Pena reflete sobre o valor do falhanço e a importância de manter a fé, a lucidez e a capacidade de começar de novo — como nos têm ensinado os grandes empreendedores das últimas décadas
Qualquer pessoa com o conhecimento e energia para se lançar como empreendedora fá-lo com entusiasmo e entrega total, acredita no projeto com todas as suas fibras … mas tantas vezes o proto cai e os sonhos se esfumam. O falhanço pode acontecer a qualquer momento na vida duma empresa e não faltam exemplos de grandes estoiros – Crédit Suisse, Enron, Lehman Brothers, AIG … a lista nunca mais acaba. Mas aqui queremos descer na escala para nos aproximarmos do leitor do Empreendedor que, na sua maioria, está nas fases iniciais de criação da sua empresa – muitas vezes a sua primeira empresa. E todas as grandes empresas foram um dia pequenas, tantas vezes start ups com uma ou duas pessoas a fazer diretas numa garagem, como Steve Jobs, Jeff Bezos e tantos outro multibilionários.

O lançamento de uma nova empresa tem sempre um sonho ambicioso por trás, um sonho que absorve de tal forma o empreendedor que falhar não é uma opção e a energia consumida a montar o negócio, a atrair seed capital e mais tarde investidores ou crédito bancário é avassaladora e não dá lugar a poder pensar em mais nada. Claro que um bom empreendedor faz as suas análises de risco, não porque não acredite no sucesso mas porque os backers exigem essa análise para ficarem convencidos da solidez da ideia e da equipa e avançarem com os fundos.
Por isso o empreendedor sabe que pode falhar mas a sua fé obsessiva no seu bébé faz com que tantas vezes o coração suplante o cérebro e ele não leve a sério esses fatores de risco, pelo menos tão a sério quanto aconselharia a prudência empresarial. Como resultado, a experiência de tantos empreendedores mostra que os riscos são sempre enormes e esmagadores, que é muito mais frequente haver falhanços do que sucessos. Mas o que os grandes empreendedores nos ensinam é que os falhanços têm um lado bom e decisivo – fortalecem-nos, oferecem-nos lições e experiência que mais facilmente nos vão conduzir ao sucesso.
O empreendedor experiente, que já passou por um ou mais falhanços, já coloca a cabeça à frente do seu coração e percebe os sinais quando as coisas não estão a correr bem – para corrigir o curso ou para fechar e começar de novo. Se ele corrrigir mas a empresa continuar a piorar, isso é o sinal de que o falhanço está ao virar da esquina e quanto mais depressa se fechar melhor.
Nesta fase decisiva do fim, a primeira coisa e a mais difícil é reconhecer que o bébé não tem condições de sobreviver e as razões podem ser imensas – contexto mudou, houve pressupostos que afinal não estavam certos, a empresa foi ultrapassada, os investimentos afinal são muito maiores e impossíveis de garantir que o projeto seja rentável nem daqui a cem anos … e por isso há que ultrapassar a paixão e admitir que o projecto já não é a estrela que era. É fácil que a amargura crie falta de confiança mas o falhanço nunca pode levar à depressão nem à perda de racionalidade – tem de levar sim a tirar as lições necessárias e começar de novo. Nunca parar, estar sempre a começar. Haverá falhanços mas os sucessos vão ser maiores e mais frequentes, este não é senão o padrão dos “serial entrepreneurs”.

Os grandes empreendedores falharam muitas vezes mas nunca desistiram e acabaram por ter um ou outro sucesso descomunal que fez disparar o seu net worth para níveis altamente invejáveis, mesmo em Portugal. E são pessoas felizes consigo próprias porque sabem que passaram por lutas difíceis que as deitaram abaixo e ergueram-se para vencer, para se imporem na vida. O lema central dos grandes empreendedores é “o que não nos mata torna-nos mais fortes” . Eles sabem que vão ter falhanços mas mantêm reservas psicológicas e financeiras para se reerguerem e partirem para uma nova aventura com o entusiasmo e a fé com que tinham partido para a primeira.
E o que concluimos ? Primeiro , que temos de estar preparados para falhar sem que isso diminua o entusiasmo e a energia como que nos dedicamos ao projeto. Segundo, temos de saber reconhecer quando as coisas correm mal e sobretudo quando já não têm emenda – nada é pior do que chover no molhado. Terceiro, já temos na cabeça qual vai ser a próxima aventura e reservámos fundos e energia para a atacar com o mesmo vigor da primeira. E quarto – vamos manter-nos alerta porque de repente algo muda e afinal o primeiro projeto pode renascer vigorosamente. Ficamos com dois, três , quatro projetos ao mesmo tempo – e depois? Um conhecido empreendedor português teve 6 falhanços e 24 sucessos, e muitos desses sucessos foram projetos onde teve a frieza de montar equipas para que corressem em paralelo “Quando as coisas não estão de feição mais vale desistir e partir para outra, mas a primeira não vai para o cemitério – vai para o congelador”.