Setor das Telecomunicações enfrenta desafio no retorno aos acionistas

Estudo da BCG revela que operadores de menor escala são os mais eficientes, enquanto fusões e aquisições se tornam alavanca crítica para o crescimento

Foto de Charlermphon13 em Freepik

O setor global das Telecomunicações gerou 694 mil milhões de dólares em criação de valor entre 2020 e 2024, um crescimento de 21% face ao quinquénio anterior. No entanto, este desempenho económico não se traduziu plenamente em retorno para os acionistas. Segundo o estudo “Returns May Be Declining, but Opportunity Is Calling”, divulgado pela Boston Consulting Group (BCG), o retorno anual médio aos acionistas no setor fixou-se nos 4%, dois pontos percentuais abaixo do registado no ciclo anterior.

O relatório da BCG salienta que este desfasamento entre valor criado e retorno efetivo reflete a crescente pressão sobre o setor, fruto da complexidade regulatória, da intensa concorrência e da necessidade de investimento contínuo em infraestruturas e inovação tecnológica. Neste contexto, destaca-se o melhor desempenho das operadoras de menor dimensão, que, com uma média de 6% de retorno anual, foram as únicas a registar uma melhoria face ao período entre 2019 e 2023.

Foto de Seventy Four em Freepik

Apesar dos números robustos em termos absolutos, o retorno sobre o capital investido (ROIC) no setor foi de 6,7% em 2024, ligeiramente abaixo do custo médio ponderado de capital (WACC), que se situou nos 7,1%. Ainda assim, a diferença entre o retorno do setor e o índice S&P 1200 reduziu-se para 7 pontos percentuais, uma melhoria significativa face aos 15 pp. verificados em 2023.

A análise dividiu as operadoras em quatro arquétipos. As grandes empresas em mercados domésticos foram responsáveis por cerca de dois terços do valor total gerado, com 455 mil milhões de dólares e um retorno médio de 4%. As empresas globais geraram 199 mil milhões, mas viram o retorno cair para 3,1%. As operadoras mais pequenas, com receitas abaixo dos 10 mil milhões, destacaram-se como as mais eficientes na criação de valor. Já as empresas de infraestruturas enfrentaram um cenário negativo, com perdas de 34 mil milhões e um retorno anual médio de -2%.

“A indústria de Telecomunicações tem enfrentado um cenário desafiante e o que observamos é que neste tipo de contextos, que criam algum tipo de pressão, as empresas que apostam primeiro nas frentes certas — como inovação, digitalização e smart M&A — têm conseguido destacar-se mais e alcançar retornos mais relevantes”, explica Eduardo Bicacro, Partner da BCG em Lisboa. “Para além disso, a menor escala tem conferido a alguns operadores a vantagem competitiva de serem também mais ágeis e rápidos a adaptar-se e capturar valor”.

Na foto: Eduardo Bicacro, Partner da BCG em Lisboa

Segundo a BCG, a criação de valor no setor assenta cada vez mais na adoção de estratégias tecnológicas e organizacionais inovadoras. A otimização de ativos, através da partilha de infraestruturas e uso de soluções cloud, permite reduzir custos e melhorar a rentabilidade. Por outro lado, o investimento em redes 5G e fibra representa uma oportunidade para reorientar os fluxos de caixa em direção a novos produtos e serviços.

A transformação digital e a aplicação da Inteligência Artificial, em particular a IA Generativa, surgem como instrumentos para melhorar a experiência do cliente, personalizar ofertas e aumentar a retenção. A capacidade de transformar dados em valor acionável é hoje um fator determinante de diferenciação.

A par da inovação tecnológica, o estudo sublinha o papel central das fusões e aquisições (M&A) no fortalecimento da competitividade. Num setor com mercados saturados e elevada concorrência, as operações de M&A têm-se revelado ferramentas eficazes para escalar operações, incorporar competências tecnológicas e gerar novas fontes de receita. A BCG recomenda uma abordagem seletiva e estratégica, sobretudo em mercados com menor número de operadores, onde as sinergias de custo e a melhoria da posição negocial potenciam retornos mais elevados sobre o capital.

A conclusão do estudo é clara: o setor das Telecomunicações tem potencial de crescimento, mas para o capitalizar será necessário alinhar inovação tecnológica, eficiência operacional e uma visão estratégica orientada para a expansão sustentável. Num ambiente em constante transformação, as operadoras que conseguirem integrar estes vetores estarão melhor posicionadas para gerar valor e reforçar a sua relevância no futuro digital.

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