TechnoVision 2026: porque a tecnologia entra numa fase de maturidade estratégica

O TechnoVision 2026 da Capgemini analisa como a IA, a cloud e a soberania tecnológica entram numa fase de maturidade estratégica.

Foto de Rawpixel.com em Freepik

A leitura do TechnoVision Top 5 Tech Trends to Watch in 2026, agora divulgado pela Capgemini, confirma que a tecnologia entra num novo ciclo: menos centrado na experimentação e mais orientado para impacto, resiliência e criação de valor. A Inteligência Artificial deixa de ser uma promessa difusa e passa a estruturar software, cloud, operações e decisões estratégicas, num contexto marcado por pressões geopolíticas e exigências crescentes de soberania tecnológica.

Segundo Pascal Brier, chief innovation officer da Capgemini e membro do comité executivo do grupo, “em 2026 prevemos que a fase de experimentação da IA irá terminar e daremos início a um novo ciclo pautado pela maturidade destas tecnologias”. A análise aponta para uma mudança clara: o foco desloca-se dos projetos piloto para provas de impacto mensurável, com implicações diretas na forma como as organizações se estruturam e operam.

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O fim da experimentação e o início da responsabilidade

A Capgemini identifica 2026 como o “ano da verdade” para a Inteligência Artificial. Depois de um ciclo marcado por investimentos acelerados e expectativas inflacionadas, muitas organizações confrontam-se agora com a distância entre a tecnologia disponível e o valor efetivamente gerado. O problema, sublinha o relatório, não reside na IA em si, mas na forma como foi adotada.

Pascal Brier é claro ao afirmar que “a IA irá converter-se na espinha dorsal das arquiteturas empresariais”, o que implica uma transformação profunda e transversal. O valor deixará de surgir de casos isolados e passará a depender da integração da IA nas bases de dados, nos processos e na relação entre pessoas e sistemas inteligentes. Em 2026, a questão central deixa de ser “o que é possível fazer” e passa a ser “o que gera impacto real e sustentado”.

na foto: Robô da Unitree durante a Web Summit 2025 (foto de Shauna Clinton/Web Summit via Sportsfile)

Quando a IA passa a estruturar o software

Uma das tendências mais estruturais identificadas pelo TechnoVision prende-se com a forma como a IA está a redefinir o próprio conceito de software. Se, durante décadas, o código foi o centro do desenvolvimento, a lógica começa agora a inverter-se: os profissionais definem intenções e resultados, enquanto a IA gera, mantém e ajusta os componentes técnicos.

Esta evolução acelera ciclos de desenvolvimento e abre espaço a sistemas mais adaptativos, mas traz também novos riscos. A governação, a supervisão humana e o controlo de qualidade tornam-se críticos para evitar falhas silenciosas, vulnerabilidades de segurança e dependências excessivas. O relatório antecipa que, em 2026, as empresas terão de investir fortemente na requalificação das suas equipas, não apenas para programar, mas para orquestrar sistemas complexos baseados em agentes de IA.

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Cloud 3.0 e a arquitetura da resiliência

A terceira grande tendência aponta para a entrada numa nova fase da cloud, marcada pela coexistência de modelos híbridos, privados, multi-cloud e soberanos. A IA, sobretudo quando aplicada em larga escala e em sistemas baseados em agentes, já não é compatível com uma dependência exclusiva da cloud pública tradicional.

O TechnoVision sublinha que fatores como latência, criticidade operacional e risco geopolítico estão a forçar as organizações a diversificar infraestruturas. A chamada Cloud 3.0 surge, assim, como resposta à necessidade de desempenho, continuidade e autonomia estratégica. Este movimento reforça a resiliência, mas aumenta a complexidade da gestão tecnológica, exigindo novas competências e modelos de governação mais ágeis.

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Operações inteligentes como novo centro de gravidade

Outra mudança estrutural identificada pela Capgemini é a transformação dos sistemas empresariais em plataformas de operações inteligentes. Os processos, e não as aplicações isoladas, passam a assumir o papel central. A introdução de agentes de IA nos fluxos críticos permite supervisionar, otimizar e adaptar operações em tempo quase real.

Este modelo inaugura uma lógica de cogestão entre pessoas e sistemas inteligentes. A IA propõe, executa e aprende; os seres humanos supervisionam, validam e governam. O relatório antecipa que 2026 marcará a passagem da automação fragmentada para a automação das cadeias de valor ponta-a-ponta, com impacto direto na eficiência, na agilidade e na capacidade de resposta das organizações.

Soberania tecnológica num mundo interdependente

Por fim, o TechnoVision destaca o que designa como o paradoxo da soberania tecnológica sem fronteiras. Num contexto de crescente incerteza geopolítica, a soberania deixa de significar isolamento e passa a traduzir-se em interdependência resiliente. Nenhuma organização ou país consegue controlar toda a cadeia tecnológica, mas pode mitigar riscos ao garantir domínio sobre as camadas mais críticas.

Pascal Brier resume esta visão ao afirmar que “a soberania tecnológica emerge como uma prioridade estratégica, incentivando as organizações a construírem a resiliência com base na interdependência”. O relatório antecipa o crescimento de clouds soberanas, modelos regionais de IA e novos ecossistemas tecnológicos, com impacto direto na forma como as empresas gerem risco, continuidade e autonomia estratégica.

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Uma mudança de ciclo, não apenas de tecnologia

Mais do que um exercício de previsão, o TechnoVision 2026 aponta para uma mudança de ciclo. A tecnologia deixa de ser um fim em si mesma e passa a ser um elemento estrutural da estratégia, da organização e da governação empresarial. Em 2026, a vantagem competitiva não estará em adotar mais rápido, mas em integrar melhor, governar com rigor e transformar inovação em valor sustentável.

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