Terras raras tornam-se foco da política industrial chinesa

Especialista alerta que o controlo chinês sobre terras raras pode desencadear um conflito comercial global e exige resposta coordenada da UE.

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A China impôs novas restrições à exportação de elementos de terras raras, ampliando o controlo sobre a produção e o uso tecnológico global destes recursos estratégicos — uma decisão que pode desencadear um novo conflito comercial.

O economista e especialista em comércio internacional do Instituto Kiel, Prof. Dr. Rolf J. Langhammer, alertou que o recente endurecimento das restrições chinesas à exportação de elementos de terras raras (ER) “vai muito além de um bloqueio controlado de acesso” e representa “um movimento estratégico para exercer influência sobre as cadeias de valor globais e consolidar a soberania da China sobre matérias-primas críticas”.

As medidas, anunciadas a 9 de outubro, determinam que o uso de terras raras e de tecnologias associadas à sua extração, mesmo fora da China, ficará sujeito à aprovação prévia de Pequim. Segundo Langhammer, esta postura coloca a China numa posição semelhante à dos EUA, que têm usado controlos de exportação de chips e restrições a investimentos no exterior como instrumentos de poder económico e tecnológico.

Na foto: Rolf J. Langhammer, economista e especialista em comércio internacional do Instituto Kiel, na Alemanha

O especialista adverte que, enquanto detentora de um quase monopólio na produção global de terras raras, a China procura preservar o seu domínio sobre toda a cadeia industrial — da extração à produção de bens acabados. “As restrições à exportação superam as tarifas de importação. É uma forma de soberania económica sobre os produtores dependentes”, explica.

Langhammer sublinha ainda que países como a Alemanha, cuja indústria automóvel, de maquinaria e defesa depende fortemente destes materiais, devem agir de forma independente, construindo reservas, diversificando fornecedores e investindo em alternativas tecnológicas. Para o economista, subsídios diretos seriam um erro: “Os exemplos de fracasso desse tipo de política industrial são numerosos.”

Caso as ameaças se concretizem, o risco de escalada comercial é elevado. “Os incentivos para contrarreações e o prenúncio de um conflito comercial global aumentarão”, avisa Langhammer. Entre as possíveis respostas estão tarifas retaliatórias, substituição de importações e aceleração da inovação para reduzir a dependência tecnológica da China — medidas que, embora dispendiosas, podem reconfigurar o comércio global de recursos estratégicos.

O professor defende que a União Europeia deve adotar uma política comercial estratégica e coesa, tornando o acesso da China ao mercado europeu dependente da partilha tecnológica e da cooperação em projetos de produção alternativos. “A política industrial global não pode ser um esforço isolado da Alemanha; requer o compromisso da política comercial europeia”, conclui.

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