O tempo médio de ‘concentração contínua’ caiu drasticamente nos últimos anos. De acordo com uma pesquisa da Adecco Portugal, este é um fenómeno estrutural que afeta em particular quem trabalha em regime remoto ou híbrido. Reuniões sucessivas, interrupções digitais, pressão para multitarefas e a ausência de pausas reais estão a reduzir a capacidade de foco — e, com ela, a produtividade e o bem-estar nas equipas.
A atenção plena, outrora um dado adquirido no ambiente de escritório, passou a ser um recurso escasso e difícil de proteger. Para Vânia Borges, Diretora de Recursos Humanos da Adecco Portugal, “a quebra de concentração não é um problema individual, é uma questão estrutural da nova realidade laboral”.
O impacto da fragmentação digital
A análise da Adecco confirma que os profissionais que trabalham à distância enfrentam maiores níveis de distração e cansaço mental. A exigência de estar sempre disponível, combinada com um ambiente repleto de notificações e estímulos paralelos, provoca uma fragmentação do tempo que dificulta a execução de tarefas exigentes. E essa fragmentação, sublinha a empresa, tem consequências diretas na qualidade do trabalho e na saúde mental.
Vários estudos corroboram esta tendência: o tempo médio de concentração ronda hoje os 25 minutos, sendo que muitas interrupções são autoinduzidas — como consultar o telemóvel ou verificar redes sociais a meio de tarefas cognitivamente exigentes.
A concentração como competência estratégica
Perante esta realidade, manter o foco deixou de ser apenas uma questão de disciplina individual. É uma competência estratégica para quem quer trabalhar de forma eficaz num contexto híbrido. E também uma responsabilidade das organizações que desejam preservar a performance sem comprometer a saúde das suas equipas.
Vânia Borges defende que a produtividade sustentável não se mede pelo número de horas online, mas pela qualidade do tempo dedicado a tarefas profundas. Para isso, as empresas devem promover ambientes com tempo protegido, rotinas claras e momentos de colaboração intencional.
Estratégias práticas para recuperar o foco
Para mitigar os efeitos da distração, a Diretora de Recursos Humanos da Adecco Portugal partilha cinco técnicas de gestão de foco adaptadas ao trabalho remoto:
- Blocos de tempo definidos: Técnicas como o Pomodoro ajudam a organizar o dia por ciclos, prevenindo o cansaço prolongado.
- Ambientes digitais limpos: Silenciar notificações e organizar o espaço de trabalho digital pode ter um efeito imediato.
- Rituais de transição: Começar e terminar o dia com rotinas específicas ajuda a separar mentalmente a esfera profissional da pessoal.
- Pausas reais: Interrupções intencionais são essenciais para preservar a energia mental e evitar o esgotamento.
- Colaboração com propósito: Reuniões mais curtas, bem preparadas e com objetivos claros favorecem o foco e o alinhamento.
Um novo paradigma para a produtividade
A concentração no trabalho híbrido é o novo campo de batalha das equipas modernas. E não se trata de um problema menor. Ao reconhecer este desafio e desenvolver práticas que o enfrentem, as empresas estarão a construir um modelo de trabalho mais saudável, eficiente e resiliente. Numa economia da atenção, proteger o foco é proteger o valor.