Web Summit: voluntariado ou exploração?

Foto de Eóin Noonan/Web Summit via Sportsfile

Chegou ao fim mais uma edição da Web Summit, o grande evento que atraiu a Portugal 70 mil participantes e mais de mil oradores de renome internacional. Há quem diga que foi ainda melhor que as edições anteriores, e que revelou novas startups, com abordagens de negócio altamente diferenciadoras. 

Mas, como habitualmente, o que acaba por levantar grande celeuma nas redes sociais e até mesmo na comunicação social generalista é a maneira encontrada por esta organização privada com fins comerciais, para levar a cabo um evento desta dimensão, com foco na inovação, tecnologia e empreendedorismo. A alegada exploração dos voluntários é um tema recorrente, todas as vezes que a Web Summit se realiza.

Com efeito, a Web Summit contratualizou com o Estado Português (e vice-versa), um compromisso para manter a conferência em Portugal, por dez anos, tendo como contrapartida um apoio financeiro na ordem dos 11 milhões de euros anuais.

Sendo este um evento gigantesco, onde o detalhe faz toda a diferença, entendeu a Web Summit dar a oportunidade a jovens de vivenciarem toda a experiência por dentro, a troco de algumas regalias associadas ao trabalho voluntário. 

Para muitos, esta pode ser uma forma de enriquecer o Currículo Vitae, já para outros é entendido como uma nova maneira de explorar jovens com sonhos e vontade avassaladora de conquistar o mundo com as suas ideias e os seus projetos, por uma empresa que é remunerada para organizar o evento.

A discussão tem diferentes pontos de vista e, claro está, também tenho o meu, ainda que não seja relevante para o artigo em apreço. Embora prefira sempre o “copo meio-cheio” e tenda a perspetivar sempre pelo lado positivo dos acontecimentos, não posso deixar passar em claro que este tipo de voluntariado é um pouco distante do conceito cívico do ato de voluntariar. 

Voluntários no atendimento participantes na Web Summit 2019. Foto de Harry Murphy/Web Summit via Sportsfile

Se quisermos fundamentar, com propósito e dados objetivos, o real impacto do voluntariado exercido por estes jovens ao serviço de uma organização privada, que gera lucros milionários, devemos medir os benefícios em torno do mercado de trabalho.

Será que, mesmo promovendo Portugal como Nação Tecnológica em ascensão e onde vale a pena investir, os voluntários deste evento vão colher frutos no que respeita às oportunidades qualificadas no mercado laboral?

Dos que já fizeram voluntariado na Web Summit – e na hora de apresentarem o seu projeto e ideia de negócio – o facto de ter colaborado pro bono no maior evento de tecnologia e empreendedorismo do mundo, traduziu-se em resultados práticos?

Se não obtiveram qualquer espécie de benefício, de que forma este tipo de atividade pode ser enquadrada? Como voluntariado qualificado, ou exploração com requisitos vagos? Deixo a decisão do seu lado, caro leitor. Qual é a sua opinião?

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