A Importância do Caminho

Era inverno de dezembro do ano de 2005, eu estava no Japão e prestes a embarcar numa viagem de 24h rumo ao Brasil. O que eu não imaginava naquele dia era que as 24h que se seguiriam seriam vividas dentro de um carro, sob uma tempestade de neve, em um trânsito carregadíssimo e qualquer coisa abaixo dos 10ºC. Um fato raro, já que em Nagoya, onde fica um dos aeroportos internacionais daquele país, não costuma nevar com tais proporções. Mas nevou, e nevou muito. Perdi aquele voo – que iria para Tóquio, antes de ir para o JFK, em Nova Iorque -, tive de adiá-lo para o dia 24, e isto sugeria basicamente duas coisas: conseguir voltar para casa, tomar banho e ir (de novo) para o aeroporto, e, eu passaria o natal nas nuvens. Literalmente! Um daqueles dias típicos onde tudo dá errado. Alguns passageiros (mais pessimistas) desistiram de entrar no voo seguinte e ficaram no Japão, naquele ano. Vai que é sinal. Vai que o avião cai! Coisas do tipo. Quase um clichê.

O otimismo, contudo, faz parte do nosso dia-a-dia, assim como a confiança e alguma graça. Por exemplo, quando você chega numa loja de sapatos, há um forte vínculo de confiança entre o comerciante e você, do contrário, ele não deixaria você experimentar o sapato, vai que você corre com ele! E o mesmo funciona quando você paga por ele, num lugar, e o retira em outro, se você não confiasse no comerciante, você não iria pagar, e, fatalmente, ele não lhe entregaria o par de sapatos.

Desde que eu me conheço por gente, eu sei que ir para o litoral no fim de ano e/ou em vésperas de feriados prolongados é sinônimo de trânsito carregado, para descer rumo à praia e para subir de volta para casa, na capital. Pessoalmente, eu posso dizer que conheço trânsito, frio, estradas boas, rodovias péssimas, bom transporte público, entre outras coisas, e a descida para o litoral paulista (nestas épocas) é horrível – na última vez em que me aventurei, ficamos 13h em trânsito. Faz parte!

Enquanto eu fazia pesquisas sobre Amsterdã, para escrever meu livro ‘Ace de Espadas’ (ainda sem previsão de publicação), eu me surpreendi com a reclamação quase unânime dos neerlandeses em relação ao transporte público. O sistema deles é muito bom. Claro, tem atrasos e alguns defeitos, mas é muito bom (se comparado ao sistema brasileiro, por exemplo). Eu tenho uma grande amiga que nasceu e vive na Holanda, e as vezes que ela reclama são, quase sempre, só por reclamar mesmo. Aliás, em uma pesquisa feita recentemente pela Universidade de Stanford (matéria publicada pela GQ Brasil), constatou-se que 95% dos consumidores reclamam apenas por reclamar. Isto é, não há interesse em solucionar o problema. Um ato sem utilidade para as pessoas e danoso para o cérebro, dado também constatado em pesquisas feitas por universidades americanas.

Contudo, há o outro lado da moeda.

Algo muito bonito que eu já vi, e foi mais de uma vez, é a tal alegria que os estrangeiros sempre comentam sobre os brasileiros. Estávamos parados há sabe-se lá quantos minutos na Rodovia dos Imigrantes, sentido litoral, o calor não estava amenizando e o trânsito não fluía nem meio metro. A maioria dos motoristas desligou o motor, alguns desceram do carro, compartilharam a água que tinham, sacaram um pandeiro, um violão velho, balde vazio, sorriso no rosto e palma na mão. Virou festa! Pessoas completamente desconhecidas, numa situação caótica e estressante, decidiram passar o tempo cantando, sorrindo e confraternizando.

‘Confraternizar’ vem do Latim com (junto) + frater (irmão). Unir/juntar-se com irmãos. nHá, sobretudo, uma beleza humana muito forte neste contexto. A ideia de fraternidade, tão bem estabelecida no Iluminismo, proporciona uma festividade e coletividade entre desconhecidos, mesmo frente uma situação que propicia o estresse e impaciência. Todos eles sabiam que: 1. Estavam ali por opção, escolha; 2. Sabiam do risco (alta probabilidade) de tráfego lento; 3. Era verão, ou seja, estaria muito calor na serra. Mas acima de tudo, eles sabiam que em algumas horas estariam na praia, curtindo a vida, fazendo história, vivendo além das paredes do escritório.

Na mitologia grega, e de acordo com a astrologia, o Sagitário é um centauro (metade homem, metade cavalo) arqueiro que lança sua flecha em determinado alvo, e depois, vai em busca de apanhá-la novamente. Então, ele repete o processo, e passa seus dias assim, entre uma ida e outra. A despeito da fantasia deste enredo, nós podemos tirar uma lição importante para nossos dias na empresa, nos estudos ou em assuntos pessoais. Temos a péssima e ilusória ideia de que só seremos felizes se ou quando conquistarmos tal coisa. ‘Só serei feliz quando eu tiver minha empresa na bolsa de valores.’ ‘Só serei feliz se eu for um bilionário.’ O sonho deve ser uma motivação para correr, e não um destino. Há muitas frases neste sentido, mas eu gostaria de pegar emprestada a frase do Eduardo Galeano, que diz: ‘A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.’. Se o centauro esperar para ser feliz só quando ele alcançar a flecha, ele será feliz por pouco tempo, e infeliz por uma eternidade.

O viver está entre o partir e o chegar. O viver está entre a capital e o litoral. O viver está entre o sonhar e concretizar. O viver está entre o lançar a flecha e recuperá-la. A alegria deve estar em todas as etapas. A alegria deve estar no viver.

De volta ao feriado, aquelas pessoas tinham um problema, um grande obstáculo a ser superado, mas elas estavam felizes, empolgadas, animadas e sorrindo, pois elas estavam focadas no horizonte, na praia, no objetivo. Por isso elas foram tão felizes e nos ensinaram uma importante lição. Se o seu sonho não te faz sorrir, pegue o próximo retorno e volte para casa.

Aliás, se ‘ser feliz’, ‘rir mais’, ‘dançar mais’, ‘curtir mais’, ‘divertir-me mais’ não fazem parte da sua lista de desejos, seja para um novo ano ou uma nova empresa, a sua caminhada será pesada, escura e triste, e, muito provavelmente, você desistirá de algumas ou de todas as coisas, no meio do caminho.

Dê importância a seu sonho! Ame-o como um filho!

Tenha sempre em mente que tempo é prioridade. E se seus sonhos não são sua prioridade, você não vai realizar nenhum deles. Fatalmente. Não-vai. Não vai! nHá um modo rápido e imediato de saber quão importante e ‘priori’ eles são. Sem olhar em lugar algum, sem hesitar, responda: n1. Quais são os sonhos e desejos da sua lista atual? n2. Quantos desses desejos viraram planos (anuais, mensais, semanais e diários)? n3. Quantos deles te fazem ser alguém mais feliz?

Ou os sonhos (e a vida, em geral) são gozo, alegria e prazer, ou serão pesos, pressão e constantes motivos para desistir. A vida acontece agora. Viva!

Fonte citada

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