Empresários portugueses pouco confiantes nas medidas económicas do Governo

Porta de acesso ao Ministério das Finanças (foto de Empreededor)

43% dos empresários portugueses afirma não estar a utilizar investimentos no âmbito do PRR, nas suas empresas e apenas 8% considera que as medidas aprovadas no Orçamento do Estado 2023 têm um efeito positivo nas suas organizações.

O Barómetro Kaizen inquiriu mais de 250 gestores de médias e grandes empresas que atuam no mercado português e que no seu conjunto representam mais de 35% do PIB nacional. Mais de dois terços dos inquiridos considera que a sua organização atingiu os objetivos delineados para 2022 mas, quase todos, acreditam que 2023 será um ano de fraco crescimento económico.

Sob a pressão de uma inflação ainda elevada, uma crise energética por resolver, um conflito militar que não dá tréguas e taxas de juro galopantes, 2023 promete ser um dos anos mais desafiantes para a economia. Os empresários inquiridos na mais recente edição do Barómetro parecem concordar com este enquadramento, já que 44% e 26% dos inquiridos aponta, respetivamente, a inflação e a crise energética, como dois dos temas mais impactantes no contexto económico atual.

Apesar da volatilidade e instabilidade dos mercados, 2022 foi um ano positivo para os empresários portugueses já que 74% admitiu ter cumprido ou ultrapassado os objetivos a que se propôs. Além disso, o grau de confiança sobe ligeiramente face à última edição (julho 2022) passando de 10,95 para 11,16. Ainda assim, os empresários mantêm-se cautelosos e 86% afirma que as previsões da Comissão Europeia são realistas, acreditando que o crescimento do PIB em Portugal será inferior a 1%, em 2023.

Apesar da taxa de inflação da zona euro ter vindo a recuar ligeiramente ao longo das últimas semanas, as empresas estão preocupadas em garantir as suas margens e, para isso, as principais iniciativas de curto prazo que têm vindo a levar a cabo passam pelo aumento dos preços de venda (para 23% dos inquiridos), enquanto 21% destaca a melhoria da eficiência energética. Potenciar a utilização da automação das tarefas ficou também entre as iniciativas mais escolhidas com 17% dos votos.

No que diz respeito ao novo Orçamento do Estado, apenas 8% dos inquiridos acredita que este terá um efeito positivo na sua organização enquanto 28% acredita que este impacto será negativo. Já no que toca ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), apontado pelo Governo como um importante instrumento ao qual se tem vindo a recorrer, 43% dos empresários inquiridos confirma não estar a fazer investimentos no âmbito do PRR e 31% afirma que o grau de execução destes investimentos é baixo.

Imagem de Gerd Altmann do Pixabay

Inovação e a aposta em tecnologia são os principais eixos de crescimento

A inovação mantém-se uma das principais peças chave no crescimento das empresas e está no centro da estratégia das organizações. Perseguindo a vontade de inovar, o investimento em novos produtos ou serviços (34%) e a melhoria dos atuais processos de negócio (29%) têm sido as principais apostas de inovação que as empresas estão a implementar.

Ainda assim, segundo 29% dos empresários portugueses, uma das maiores barreiras com que as suas empresas se deparam no processo de inovação, é a ausência de um processo estruturado que permita testar e escalar novas ideias de negócio. Apesar desta dificuldade, para 31% dos inquiridos, o lançamento de novos produtos e serviços continua a ser uma das principais estratégias de crescimento que pretendem adotar em 2023. A entrada em novos mercados e a melhoria da força de vendas destacam-se também no pódio como as estratégias de crescimento mais escolhidas com 25% e 16% das votações, respetivamente.

A transformação digital continua a ser vista como um importante meio para potenciar o aumento da criação valor das empresas e um fator primordial para assegurar a competitividade dos negócios. Neste enquadramento 59% dos empresários portugueses afirma já estar numa fase de Automatização e Digitalização nas suas empresas. Por outro lado, 2% dos inquiridos revela ainda não ter iniciado iniciativas estruturadas de digitalização.

Foto de Willfried Wende em Pixabay

A crise energética e as políticas sustentáveis

A crise energética que os países da UE estão a enfrentar exige uma resposta urgente e, alinhada com o objetivo proposto pelos planos de transição e transformação energética definidos pelo Programa das Nações Unidas. 61% das empresas apostam no aumento da eficiência energética de equipamentos e instalações. Por outro lado, 21% dos inquiridos irá investir na redução do custo associado à Supply Chain.

A maioria dos gestores considera-se responsável pelo impacto que as organizações que lideram, têm na comunidade e no mundo, e afirmam que as práticas sustentáveis são uma ambição estratégica. Assim, 32% dos gestores afirmam que têm investido entre 1% e 3% da sua receita à componente de sustentabilidade.

Por outro lado, as preocupações com a responsabilidade social irão continuar a fazer parte dos temas mais críticos das empresas, com especial destaque para a satisfação e bem-estar dos clientes, assim como um maior foco na avaliação e cooperação com fornecedores. 42% dos inquiridos assume que uma das principais prioridades nas suas empresas, em 2023, é a aposta em práticas de trabalho justas e responsáveis, incluindo condições de trabalho saudáveis e seguras, remuneração justa, direitos trabalhistas e equidade de género.

“Estamos perante uma nova narrativa de investimento e, apesar das perspetivas parecerem animadoras e os empresários estarem mais otimistas, continuamos a viver num clima de incerteza debaixo de variáveis que transitaram do último ano e, sob a influência de novos impactos como a abertura da China, por exemplo, cujas consequências sobre o consumo e cadeias de abastecimento, ainda desconhecemos”, realça António Costa, CEO do Kaizen Institute.

“Mais do que nunca, é importante redefinir a proposta de valor e alinhar a estratégia das empresas com os objetivos dos stakeholders, garantindo soluções que permitam catalisar o negócio, sem incremento de custos, apostando na digitalização e com perspetivas de sustentabilidade do crescimento”, acrescenta o responsável do Kaizen Institute em Portugal.

O Barómetro Kaizen é um estudo de opinião desenvolvido semestralmente pelo Instituto Kaizen em Portugal junto de administradores e gestores de médias e grandes empresas que atuam no mercado português sobre a sua perspetiva quanto a temas de atualidade, à evolução da economia e do seu negócio, perspetivando tendências e desafios.

A edição de fevereiro do Barómetro Kaizen inquiriu mais de 250 gestores de empresas que representam, no seu conjunto, mais de 35% do PIB de Portugal.

O Kaizen Institute Consulting Group é uma empresa multinacional que fornece serviços de consultoria e formação ao tecido empresarial e instituições públicas em mais de 35 países. Fundado em 1985, na Suíça, está em Portugal, com escritórios no Porto e em Lisboa, desde 1999.

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