Profissionais com mais de 50 anos enfrentam discriminação no mercado de trabalho, apesar de a experiência e a maturidade serem fatores determinantes para o sucesso das organizações.
Num mercado de trabalho em rápida transformação, as empresas continuam a sobrevalorizar a juventude e a subvalorizar a experiência. A tendência é particularmente evidente entre os profissionais com mais de 50 anos, que permanecem entre os mais afetados pelo desemprego e pela exclusão em processos de recrutamento, mesmo num contexto em que Portugal é um dos países mais envelhecidos da Europa.
Durante a pandemia, um em cada quatro profissionais despedidos tinha mais de 50 anos, e em Portugal e Espanha foram precisamente os mais séniores que mais recorreram aos centros de emprego. A taxa de desemprego nesta faixa etária cresceu 15%, enquanto entre os 25 e os 49 anos o aumento não ultrapassou 2%.

“Estamos a viver um paradoxo”, afirma Jorge M. Fonseca, Partner da GEORGE Executive Advisors. “Num país onde os profissionais com mais de 50 anos serão inevitavelmente a maioria da força laboral na próxima década, continuamos a vê-los ser preteridos apenas pela idade.”
Estudos recentes mostram que a correlação entre idade e desempenho é praticamente nula, contrariando a perceção de que os profissionais séniores são menos produtivos ou mais dispendiosos. “Nada poderia estar mais longe da verdade”, reforça Jorge M. Fonseca. “A experiência ensina o que nenhum MBA consegue: resiliência, humildade, capacidade de adaptação e gestão da frustração — competências que se tornam vitais em contextos de incerteza.”
Empreendedores com mais de 45 anos têm três vezes mais probabilidade de criar negócios de sucesso, beneficiando da paciência, da colaboração e da visão estratégica adquiridas ao longo da carreira. Casos como António Guterres, Leonor Beleza ou Eduardo Catroga demonstram que a liderança e a excelência profissional não têm prazo de validade.
“Associar inovação à juventude é um erro cultural”, acrescenta Fonseca. “Um profissional sénior que se atualiza é um superprofissional: combina o melhor de dois mundos — experiência e agilidade mental.”
Num contexto em que o consumo sénior já representa mais de 25% do PIB do sul da Europa, especialistas alertam que ignorar este talento é um luxo que as empresas não podem continuar a permitir-se. Valorizar a experiência é, mais do que uma questão social, uma estratégia de competitividade e sustentabilidade.