Estratégias de Descarbonização Empresarial Ignoram 63% das Emissões

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Estudo revela que empresas europeias ignoram os principais focos das emissões poluentes nas suas estratégias de descarbonização.

Um estudo conjunto da Capgemini e da CDP (Carbon Disclosure Project) colocou em destaque as estratégias de descarbonização adotadas pelas empresas europeias, revelando uma falta de abrangência em relação às emissões de dióxido de carbono. As conclusões apontam para um desafio contínuo na direção de ações eficazes para lidar com as principais fontes de emissões poluentes.

O relatório, intitulado “From Stroll to Sprint: A race against time for corporate decarbonization”, revela uma tendência crescente entre as empresas europeias em relação à transparência e compromissos com a descarbonização. Nos últimos três anos, as declarações de emissões junto à CDP aumentaram impressionantes 56%. No entanto, as empresas ainda enfrentam dificuldades para direcionar medidas impactantes sobre as fontes mais críticas de emissões. Atualmente, apenas 37% das emissões de Scope 3 estão sendo abordadas por medidas de descarbonização.

Estratégias de Descarbonização não têm em conta as emissões indiretas das empresas
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Escopos e suas Definições

Os escopos (ou Scopes em inglês) correspondem à classificação das emissões de gases de efeito estufa (GEE) desenvolvida pelo Protocolo de Gases de Efeito Estufa (GHG Protocol). Essa classificação, dividida em três níveis (Scope 1, 2 e 3), auxilia as empresas na compreensão e gestão de suas emissões.

  • Scope 1: Inclui as emissões diretas de GEE de uma empresa, como a queima de combustíveis fósseis, a produção de resíduos e a agricultura;
  • Scope 2: Engloba as emissões indiretas de GEE de uma empresa, resultantes do consumo de energia elétrica, vapor e calor de fontes externas;
  • Scope 3: Abrange todas as outras emissões indiretas de GEE de uma empresa, originadas de atividades como transporte de produtos, uso de bens e serviços adquiridos e descarte de resíduos.

As emissões de Scope 3 geralmente são as mais significativas de uma empresa, porém, também são as mais desafiadoras de gerir devido à sua origem em fatores externos ao controle da empresa.

Metas de Redução e Objetivos Net Zero

O estudo da Capgemini e da CDP evidenciou a disparidade entre as emissões relatadas e as ações efetivas de descarbonização. Aproximadamente 92% das emissões declaradas pelas empresas europeias em 2022 pertencem ao Scope 3, com a utilização de produtos vendidos (57%) e bens e serviços adquiridos (17%) destacados como principais focos. Apesar do aumento de 28% nas declarações de Scope 3 para a CDP em 2022, em comparação com 2019, ainda existe uma lacuna substancial entre as metas de redução de emissões declaradas e as aprovadas pela Science Based Targets Initiative (SBTi).

O estudo revelou que 47% das empresas declararam possuir metas absolutas de redução de emissões aprovadas pela SBTi, representando um aumento considerável desde 2019. No entanto, essas metas aprovadas pela SBTi correspondem apenas a 13% do total das emissões de gases de efeito estufa reportadas à CDP em 2022. Adicionalmente, somente 8% das empresas estabeleceram metas net zero aprovadas pela SBTi até o momento.

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Desafios e Oportunidades Futuras

Entre as principais medidas de descarbonização que as empresas podem implementar para cada escopo, destacam-se a mudança para fontes de energia renovável, investimentos em eficiência energética e redução no uso de combustíveis fósseis no Scope 1. A negociação de contratos com fornecedores de energia renovável, instalação de sistemas de eficiência energética e aquisição de produtos sustentáveis podem ser soluções a implementar para atingir o Scope 2. Para alcançar as metas no Scope 3, empresas podem focar-se na redução do desperdício, investimento em transporte sustentável e preferência por fornecedores com medidas eficazes de redução de emissões.

Roshan Gya, CEO da Capgemini Invent, ressalta que “à medida que as empresas procuram atingir metas net zero, é imperativo que estabeleçam objetivos de curto e longo prazo para monitorizar suas jornadas de descarbonização”. Ele acrescenta que tecnologias inovadoras, como o hidrogénio verde e a eletrificação de processos, devem ser implementadas em larga escala, requerendo mudanças regulatórias e abordagens inovadoras.

O estudo conclui que a implementação de estratégias de descarbonização não compromete o crescimento das empresas, demonstrando que as preocupações ambientais e a competitividade podem coexistir. Com a urgência de limitar o aquecimento global a 1,5°C, as empresas são chamadas a definir planos de transição ambiental robustos e abrangentes.

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